O problema apresentado pela consulente não se restringe à língua portuguesa. Repare-se, por exemplo, que, na língua inglesa, o pronome pessoal you serve para o singular e para o plural, no francês, não nos resta igualmente muito mais do que o tu e o vous e, no espanhol, o tú e o usted.
No entanto, e centrando-nos especificamente no português, pondo de lado os tratamentos cerimoniosos (ex.: «Vossa Excelência»), os títulos profissionais (ex.: «o senhor doutor») e os cargos (ex.: «o senhor ministro»), que podem naturalmente ser usados na segunda pessoa (ex.: «o senhor doutor pode receber-me amanhã?»), direi que, ainda assim, nos restam, dependendo do contexto conversacional, e até, por exemplo, do estado civil da pessoa, «o senhor», «a senhora» («a senhorita», no Brasil), «a menina», «o menino», ou, porque não?, «a madame» (em contextos de propositada caricatura social, por exemplo).
Por outro lado, é também muito frequente (sobretudo no português europeu) «o emprego de formas nominais antecedidas de artigo em vez das formas pronominais ou pronominalizadas de tratamento. São exemplos dessas formas nominais: [...] o nome próprio, seja o de batismo, seja o de família: – O Manuel já leu este livro?; – O Martins já leu este livro? [...], os nomes de parentesco ou equivalentes: – O pai já leu este livro? [...], outros nomes que situam o interlocutor em relação à pessoa que fala: – O meu amigo já leu este livro?; – O patrão já leu este livro?; – O cavalheiro já leu este livro?» (Lindley Cintra, Celso Cunha, Nova Gramática do Português Contemporâneo, pp. 297-298).
Dito isto, concordará certamente comigo a prezada consulente se eu lhe disser que não estamos assim tão mal no que a este aspeto particular da língua diz respeito.