Muito obrigada, prezado consulente, pela leitura atenta da resposta que elaborei, e muito obrigada ainda pela possibilidade que me proporciona de voltar ao assunto.
Antes de mais, devo dizer-lhe que não conheço nenhum estudo sobre esta situação em concreto e que tudo o que escrevi ou vier a escrever é fruto da reflexão pessoal e da análise de algumas frases. Vejamos de novo os exemplos em causa:
(1) «O Governo avaliou a situação.»
(2) «O professor avaliou os alunos.»
(3) «O Conselho reuniu para avaliar os resultados.»
(4) «O Conselho reuniu para avaliar das causas e efeitos da actual situação.»
Nos exemplos (1) a (3) o verbo avaliar é transitivo directo, tendo, por isso, um complemento directo, enquanto em (4) o complemento do verbo é iniciado por uma preposição. Como esta preposição não introduz um complemento indirecto, ou seja, não designa a entidade que beneficia com a acção do verbo, o complemento é considerado por muitos como oblíquo.
Fica por resolver o motivo por que, em alguns casos, o verbo avaliar se constrói com complemento directo e noutros com um complemento oblíquo. Na resposta anterior indiquei como hipótese possível o facto de o complemento oblíquo ter uma maior abrangência, ser mais vasto. Não fui, no entanto, suficientemente explícita e baralhei ainda mais as coisas quando abordei o grau de abrangência das frases com complemento directo. Peço desculpa e espero redimir-me. Deixando o problema da abrangência de lado, concentremo-nos na estrutura do complemento. Em (1), (2) e (3) o complemento é constituído por uma expressão muito simples: apenas um nome e um determinante – a situação; os alunos; os resultados. Por seu lado, em (4) a expressão que precede a preposição é bem mais complexa – das causas e efeitos da actual situação.
Este aspecto não é, porém, limitativo, pois pode muito bem ocorrer uma frase como (5), que permite que o verbo avaliar possa ter como complemento directo uma expressão nominal complexa.
(5) «O Conselho reuniu para avaliar as causas e os [possíveis] efeitos da actual situação.»
Será possível que tenha por complemento oblíquo uma expressão nominal simples? Vejamos:
(6) «*O governo avaliou da situação.»
(7) «*O professor avaliou dos alunos.»
(8) «*O Conselho reuniu para avaliar dos resultados.»
Como falante de português europeu, não aceito estas frases como correctas; por isso lhes antepus um asterisco. No entanto, aceito (5)!
Será que o verbo avaliar quando transitivo oblíquo transmite ao sentido que veicula algum valor de hipótese que não está presente quando é transitivo directo? É provável que seja essa a razão. Pelo menos é assim que eu interpreto o pequeno 'corpus' sobre o qual reflecti, embora me tenha expressado mal ao falar de forma tão vaga em abrangência.
Critérios rigorosos para a análise desta como de muitas outras situações da língua portuguesa não lhe posso oferecer, prezado consulente. Apenas a minha sensibilidade de falante nativa. E estou certa de que, se for igualmente falante nativo do português, poderá não conseguir explicar as razões que o orientam, mas é bem provável que, como eu, rejeite instintivamente as frases (6), (7) e (8).
Voltando ao tema em apreço, talvez possamos concluir que o verbo avaliar, quando tem um complemento constituído por uma expressão complexa e significa apreciar globalmente, ocorre, preferencialmente, seguido da preposição de.