A primeira questão que refere (o facto de a seguido de c ser aberto) é errónea, porque, na verdade, o c não se diz (apesar de já se ter dito...).
[No português do Brasil atriz e ator não levam sequer este c mudo, com se sabe. Cf. Ortografia e pronúncia do português europeu]
A regra apontada é válida, por exemplo, para o francês, em que, quando uma vogal é seguida de dois sons consonânticos, deve ser aberta: “á[ks]ion”, ('action'), “é[ks]périence”, “á[kt]rice”, e por aí fora (note-se que o acento antes de [] não existe graficamente; serve apenas para assinalar a abertura da vogal). Porém, no francês, a consoante que segue a vogal está bem presente foneticamente.
Quanto à segunda questão (dizer actriz com a fechado e actor com a aberto), posso adiantar-lhe que esta parece ser uma variação em curso (semelhante à de armário – /ármário/, oscilar – /óscilar/) que talvez decorra desse desaparecimento fonético da consoante que segue a vogal e que provavelmente só daqui a algum tempo poderá ficar decidida. Estas mudanças são muito lentas e graduais e, por isso, talvez nenhum de nós chegue a presenciar o momento em que uma das variantes se cristalize na língua.
A terceira questão que levanta é interessante. A verdade é que a variedade lisboeta não é a que mais fecha a vogais (lembremos o /pauco/ por pouco – em Lisboa, /poco/ – dos dialectos minhotos, ou os /pôrcos/ por porcos de algumas zonas de Trás-os-Montes), mas talvez a que mais reduz as vogais: feminino é /femenino/ (quase não se percebendo as vogais – /fmnino/), ministro é /menistro/ (idem), etc.
Há que perceber, em relação a esta questão das variedades do português, que não há dialectos melhores e piores. Há, sobretudo, que aceitar a variedade como um factor de enriquecimento linguístico, cultural e histórico.
No entanto, como sempre houve e sempre haverá necessidade de regular a língua (devido, cada vez mais, aos meios de comunicação social e à facilidade de comunicação), tem de se estipular uma norma e essa norma, actualmente, é-nos dada pela variedade lisboeta (por razões demográficas e institucionais, principalmente).
Muitas vezes, esta variedade é conotada como a variedade “prestigiante” e “prestigiada” mas – e parece-me importante salientar este assunto – essa estereotipização não pode permanecer no entendimento de um linguista, excepto se se tratar de problemas de normativização ou consultoria, como acontece no Ciberdúvidas.
Mas, mesmo sendo a consultoria de Língua um dos propósitos do Ciberdúvidas, o grupo de consultores não é apenas constituído por alfacinhas. Há, inclusivamente, consultores falantes de variedades não continentais do Português!...