A palavra composta advogado estagiário não foi encontrada nos meus documentos de referência.
Um dos meus critérios orientadores é considerar o hífen conveniente nos casos em que as palavras estão no sentido aparente, figurado, dispensando-o quando no sentido real, denotativo. Assim, por exemplo, saco-roto (Vocabulário Ortográfico do Português, da responsabilidade do ILTEC; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010; D´Silvas Filho, «Vocabulário Fundamental do novo Acordo Ortográfico» in Prontuário – Erros Corrigidos de Português, Lisboa, Texto Editora, 2010) tem hífen no sentido de alguém que não guarda segredo, mas «saco roto» não o tem porque é um sintagma NA (nome e adjetivo): isto é, considera-se, entre sacos, aquele que está roto. Assim, o conjunto «advogado estagiário» não tem um sentido semântico figurado (é um advogado ainda estagiário) e pode ser considerado um sintagma NA, portanto, sem hífen. Esta conclusão linguística justifica que o conjunto apareça naturalmente sem hífen em textos jurídicos. Sublinha-se que o critério geral no novo Acordo Ortográfico (AO) é a simplificação no hífen.
Outro critério tradicional considera a necessidade do hífen nos casos de haver uma unidade particular nas palavras, como, por exemplo, em guarda-noturno (AO): que não é, só, um guarda que faz serviço de noite. Neste critério, os senhores advogados poderão considerar que um estagiário não é ainda um advogado de pleno direito, e exigir que o termo advogado não apareça isolado na estrutura em causa. Então, o composto advogado-estagiário será a designação "particular" dada ao formado em direito pela universidade, ainda não propriamente com o título profissional de advogado. Não tenho habilitações para me pronunciar sobre a “justeza” desta hipótese.
Até à data, a existência do hífen nos compostos tem sido uma espécie de segredo de lexicógrafos, e o resultado é que frequentemente aparecem soluções diferentes, com ou sem hífen, em obras distintas. O novo AO, declarando o propósito de racionalizar o hífen, permite-nos agora decidir em muitos casos sobre a sua conveniência na língua, de acordo com os cambiantes de virtualidades que o hífen pode dar-nos, como mostrei nos exemplos acima.