Não existe o termo “advérbios de direcção” na tradição gramatical portuguesa. No entanto, recordo que, associados a verbos de movimento (ir, vir, andar), ocorrem advérbios como cá e aqui («vem cá/aqui») e locuções adverbiais como em frente, para a frente, para trás, à/para a direita, à/para a esquerda, para cima, para baixo, para dentro, para fora. Todas estas expressões indicam a direcção do movimento, pelo que podem ser encaradas como equivalentes a advérbios de direcção. Não pude encontrar estudos sobre os advérbios de direcção em português, mas julgo que esta classe existe, por exemplo, em alemão, com as partículas “hin” («(para) lá») e “her” («(para) cá»), como existe em inglês, como se vê na expressão “come in”, na qual “in” marca um movimento de fora para dentro. Suponho que as gramáticas portuguesas não têm dado muita atenção aos advérbios de direcção, porque o português, tal como as outras línguas românicas, não costuma explorar esta possibilidade, ao contrário das línguas germânicas e, ao que aprece, eslavas. Em vez disso, há mais a tendência para que a direcção do movimento seja inerente à significação do próprio verbo. Existem assim unidades lexicais que agregam a informação de movimento à de direcção; por exemplo, diz-se mais entrar do que ir para dentro (embora esta locução seja até mais adequada, pelo menos a certos contextos); usa-se mais subir do que vir para cima; e existe recuar a par de ir para trás. Em anos recentes, têm surgido trabalhos de investigação sobre esta característica que não é exclusiva do português (ver Hanna Batoréo, Expressão do Espaço no Português Europeu, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia/Fundação Calouste Gulbenkian, 2000).