Não é nada impertinente a sua questão. Pelo contrário, é até muito oportuna e revela uma visão universalista da nossa língua, muito de louvar.
Mas antes de lhe dizer qual a minha opinião, é necessário fazer algumas precisões sobre o texto da sua pergunta.
Nem todos os vocábulos apontados são exclusivos de um dos países. Por exemplo, as variantes rotura e ruptura são válidas em Portugal e no Brasil. E mesmo na diferença frequente da grafia, ou não, de consoantes mudas, o Brasil tem muitas variantes também legais com as grafias usadas em Portugal (ex.: afeção/afecção, caraterizar/caracterizar, fletir/flectir, etc., etc.). Além disso, nas sequências consonânticas, muitos termos são comuns, sem variantes (ex.: adaptar, compacto, decepção, egípcio, ficção, inépcia, etc., etc.)
A verdade, porém, é que cada um dos países tem a sua norma ortográfica oficial. As duas normas pouco diferem, porque felizmente os linguistas de ambos os lados têm feito um grande esforço de entendimento; mas há pormenores (nas consoantes mudas, nalguns acentos e pouco mais) onde ainda não foi possível a conciliação.
Aquilo que o consulente refere seria realizado com o Acordo Ortográfico de 1990. Concordo que não é perfeito: há quem defenda que as alterações ortográficas, porque têm muitas implicações, devem ser profundas para serem duradouras, e este acordo pouco muda. Para mim, contudo, teria, pelo menos, a virtude muito importante de considerar legais as variantes em todos os países de língua oficial portuguesa (ex.: António e Antônio, facto e fato, óptimo e ótimo, etc., etc.).
Treze anos depois ainda não entrou em vigor, não obstante já estar referendado pelo Parlamento de Portugal e pelo do Brasil. É a "resistência à mudança"... Assim, em cada um dos países só é hoje legal escrever-se na norma ortográfica em vigor nesse país (a menos que os textos se destinem "exclusivamente" a comunidades de outra naturalidade). Esta é a regra. Não pode, não, nesta altura, adoptar a variante que mais lhe agradar.
Compreendemos a sua insatisfação. Que é também a nossa. Só que, em Ciberdúvidas, o direito que nos dá a decisão de não escrevermos só para um dado país, mas «numa língua de oito pátrias», no pensamento do saudoso João Carreira Bom (numa «língua comum», como eu digo), nós quase desde a primeira hora adoptámos o espírito universalista do acordo de 1990. Na primeira fase de Ciberdúvidas, repetíamos completamente as palavras de grafia diferente; agora estamos a ensaiar uma dupla grafia simplificada (ex. <facto>, frequente, em que os parênteses curvos separam as letras que não existem na grafia brasileira, e os rectos incluem as que são diferentes nessa grafia). Em nosso entender, este processo poderia ser generalizado a comunidades mistas, portuguesas e brasileiras, desde que os textos se restringissem ao uso dessas comunidades.
Aceitamos que não era bem isto que o generoso consulente desejaria. Mas não temos mais nada para lhe oferecer agora.
Ficamos com a esperança de que a união na comum língua, das "oito pátrias", venha a ser aprofundada. Para que consigamos vê-la devidamente considerada internacionalmente, na sua importância de quase duzentos milhões de falantes e no facto de já ter sido língua franca em grande parte do mundo.
Cf. As duas ortografias + a pronúncia no Ciberdúvidas
Ao seu dispor,