A grande mobilidade que a língua tem permite, de facto, a construção das frases de diferentes formas. Mas isso não impede que ela seja ao mesmo tempo muito rigorosa, tornando inadmissíveis algumas, sob o risco de o sentido da frase ficar ambíguo ou mesmo deturpado.
Da análise dos exemplos apresentados pelo consulente, ressaltou, para mim, a importância que a colocação do advérbio de exclusão «só» aí assume.
Pegando na primeira frase, a opção que se me apresenta mais clara e que, ao mesmo tempo, respeita a ordem directa seria:
«O défice orçamental só estará abaixo dos 3,0% do PIB em 2008.»
Independentemente da sua posição, o advérbio modifica o valor da expressão «estar abaixo dos 3.0% do PIB». A frase pode ser apresentada de várias formas, desde que não surja a vírgula de separação entre o modificador e a expressão modificada.
Já no outro exemplo apresentado, o advérbio restringe o valor não do verbo mas do complemento circunstancial e, portanto, funcionam, advérbio e expressão de tempo, como um bloco que pode ficar isolado por vírgulas: «Só em 2005, o défice crescerá 6%.»
Já a colocação do advérbio junto ao verbo implicaria uma alteração total do sentido da frase: «O défice só crescerá 6% em 2005.»
É interessante verificarmos a subtileza e rigor existentes por detrás da colocação ou não de uma simples vírgula, como o consulente muito bem demonstrou. Que tal subtileza falta muitas vezes a profissionais da Comunicação Social, é coisa a que já nos fomos habituando...
Que o défice orçamental seja superior ao que deveria, também…