A consoante representada por /R/ é normalmente chamada vibrante uvular, tendo em conta que a sua produção implica a ação da úvula (cf. Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 1000), sendo que à representada por /r/ se costuma chamar vibrante alveolar múltipla.
Assim, o processo a que a estimada consulente se refere consistirá na uvularização do /r/: «Uma das últimas transformações que estão a produzir-se no sistema consonântico português consiste na uvularização, a partir da região de Lisboa, da pronúncia do r geminado (p. ex.: rato, razão, carro, terra; às vezes, a dorso uvular1 R chega a uma dorso velar1 surda x); esta evolução portuguesa autóctone, já observada no século passado (Gonçalves Viana, Essai de phonétique et de phonologie de la langue portugaise d´après le dialecte actuel de Lisbonne, separata de «Romania», pp. 29-98) provavelmente terá uma extensão maior por causa da norma lisboeta» (Timo Riiho, Portugiesisch: Interne Sprachgeschichte und Entwicklungstendenzen, Evolução linguística interna, publicado em Lexikon der Romanistischen Linguistik, Band VI, 2. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 1994).
Este processo fonético é levado ao extremo por alguns falantes da região de Setúbal, por exemplo.
Leia-se, igualmente, este artigo de opinião de Álvaro Iriarte Sanromán.
1 Atualmente, de acordo, por exemplo, como o Vocabulário Ortográfico FLIP e com o Vocabulário Ortográfico Português, desenvolvido pelo ILTEC, a grafia correta de cada um dos referidos termos será: dorsouvular (quando o dorso da língua toca na úvula – o som /R/ é um exemplo); dorsovelar (quando o dorso da língua toca no véu palatino: dorsovelar surda, ex.: /k/; dorsovelar sonora, ex.: /g/, Fundamentos da Linguística Contemporânea, Edward Lopes). Por vezes, de facto, a pronúncia da uvular /R/, como salienta Timo Riiho, chega a soar como uma velar surda, um pouco à semelhança do /j/ espanhol, ex.: «Cojo» [´Kojo] (= coxo): ex.: «Correu» [Ko´xew].