Boadela ou Aboadela são as formas do nome de povoações das zonas de Amarante e Lamego. José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa) indica que num documento do ano de 954 ocorre a grafia Abohadella, considerando que deve tratar-se da adaptação do nome próprio árabe abū ´abd allaH, «pai do servo de Deus», que, segundo o mesmo autor, deu também a forma Bobadela, que ocorre nas zonas de Amarante, Oliveira do Hospital, Chaves, Boticas, Loures, bem como na Galiza, na região de Celanova e Allariz (Ourense). Com este nome, Machado relaciona também Boabdil, adaptação românica divergente (de origem andaluza) do nome do último rei mouro de Granada.
É, portanto, provável que este topónimo do Centro e do Norte de Portugal esteja ligado a um nome próprio árabe, o que não é de admirar, dada a importância das comunidades moçárabes no Centro de Portugal e as possíveis deslocações de população na extensa zona de fronteira cristã-muçulmana existente na Alta Idade Média. Que o nome apareça no Sul da Galiza também não é de estranhar, porque a zona de Celanova encontra-se ligada ao monarquismo do século X, que compreende uma importante componente moçárabe.
Mesmo assim, cabe perguntar se estamos realmente a lidar com um antropónimo árabe. É que os que existem espalhados entre o Norte e o Centro de Portugal terminam em -e, evolução do -i do genitivo latino que era sufixado a esses antropónimos, já na sua adaptação ao romance galego-português ou moçárabe: Afife (Viana do Castelo) < Afifi < árabe `afif, «casto, decente, virtuso»; Ceide (Guimarães, Famalicão) < *Ceidi < árabe sayyid, «chefe, príncipe, senhor»; Mafamude < Mafamudi < árabe mahamūd, «louvável, edificante» (ver Machado, op. cit.).