A posição que as palavras ocupam na frase define, muitas vezes, a sua função sintáctica. Vejamos os seguintes exemplos:
(1) «O Pedro ama a Maria.»
(2) «A Maria ama o Pedro.»
A expressão nominal «o Pedro» é sujeito em (1) e complemento directo em (2). Sucede o inverso com «a Maria».
Observem-se os próximos exemplos com o verbo ser identificacional:
(3) «A Ana é a directora da empresa.»
(4) «A directora da empresa é a Ana.»
Aparentemente, a expressão nominal «a Ana» seria sujeito em (3) e predicativo do sujeito em (4). No entanto, a análise não é assim tão linear, dado que nem sempre é fácil determinar qual o constituinte que desempenha a função de sujeito e de predicativo.
Quando, na resposta anterior, indiquei como sujeito as expressões nominais «qualquer modalidade de benefício financeiro», «as borboletas» e «uma indicação de riqueza», baseei-me no facto de o mesmo ser a expressão que traduz o conceito mais em evidência (e tendo em conta uma das definições mais tradicionais de sujeito: «a entidade sobre a qual se diz alguma coisa»).
No entanto, sendo o sujeito uma função sintáctica, deve ser identificado através de critérios sintácticos e não semânticos.
Por essa razão, a Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mateus (pág. 545), propõe um teste sintáctico1 para determinar qual é efectivamente o constituinte que desempenha a função de predicativo: O predicativo é a expressão nominal que puder ser substituída pelo pronome demonstrativo invariável -o.
Passo a aplicar este teste em duas das frases que apresentou:
(5) «As borboletas são o maior enigma da natureza, e as ostras também o são.»
* «O maior enigma da natureza são as borboletas, e a grande preocupação dos cientistas também o são.»
(6) «Uma indicação de riqueza é considerada ganhos económicos, e uma poupança a longo prazo também o é.»
* «Ganhos económicos são considerados uma indicação de riqueza, e também o são bens futuros.»
Pela aplicação deste teste se comprova que as expressões «as borboletas» e «uma indicação de riqueza» têm a função de sujeito.
No entanto, reitero que, muitas vezes, não há consenso entre os autores a respeito do constituinte que desempenha a função de sujeito e de predicativo, quando ser é um verbo identificacional.
Disponha sempre!
1 «Neste tipo de frases copulativas, a que muitos autores chamam frases identificacionais ou equativas, um dos constituintes comporta-se como predicado e o outro como sujeito.
Assim, só um dos constituintes nominais, o predicado da oração pequena, pode ser substituído pelo demonstrativo invariável -o, como mostra o contraste de gramaticalidade entre (23) e (24):
(23) (a) «A degradação do edifício foi [a causa do desmoronamento], e também o foram as chuvas torrenciais.»
(24) (b) *«A causa do desmoronamento foi [a degradação do edifício], e também o foi o pouco cuidado dos inquilinos.»