O uso em questão parece não ter tido descrição nem juízo normativo especial. Não há, portanto, comentário que leve a crer que estejamos na presença de um uso incorreto.
Mesmo assim, importa assinalar que as locuções «de nada» e «de pouco» se associam ao verbo servir, tal como outras introduzidas por de – «servir de exemplo/lição» (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa ) –, o que sugere que «de nada/pouco vale» ocorra por analogia.
Além disso, há registo da estrutura interrogativa «de que vale...?» (ver Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintático da Língua Portuguesa, de Énio Ramalho), a qual permite legitimar respostas como «não vale de nada», «vale de pouco», ou, com inversão, como parece ter-se fixado ao modo de expressão idiomática, «de nada/pouco vale».
Há exemplos literários quer de «de nada vale» e «de nada/pouco serve», os quais não são propriamente recentes (Corpus do Português):
(1) «Ao ver-me, ela compôs-se um pouco, mas de nada valeu.» (Fialho d'Almeida, A Cidade do Vício, 1882)
(2) «Acusaram-nos das práticas mais infames e de nada valeram nem os seus protestos, nem as suas súplicas.» (Mário de Carvalho, Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde, 1994)
(3) «Para esta de nada serve a apática prudência que pouco a pouco nos precepita nos laços cavilosos que nos tende o implacável inimigo de tôdas as nações [...]» (Marquesa de Alorna, Cartas e Outros Escritos, 1809)
(4) «De pouco serviria a demora, vista a irrevogável resolução que ambos haviam adoptado [...]» (Júlio Dinis, Os Fidalgos da Casa Mourisca, 1871)
Em suma, «de nada/pouco vale» é uma alternativa correta e, em certa medida, idiomática, a «não vale nada/vale pouco», que é uso sintático mais canónico.