No subdomínio «Classe de palavras» da TLEBS, os nomes subclassificam-se em nomes próprios e nomes comuns. Estes têm subclasses definidas pelas seguintes oposições (transcrevo os exemplos da entrada «nome», B3.1.2.2., da TLEBS):
– nomes concretos e nomes abstra(c)tos: pedra/amor;
– nomes contáveis e nomes não contáveis:pedra/ar;
– nomes cole(c)tivos: multidão.
A nova terminologia acrescenta que os nomes podem ainda ser classificados de acordo com as oposições:
– animado/não animado: animal/porta;
– humano/não humano: bebé/porta.
Nesta classificação, as diferentes subclasses do nome podem-se cruzar, embora possam surgir alguns problemas de descrição.
Assim, rebanho é um nome colectivo e um nome comum. É também um nome contável, dado que é compatível com o plural quando este marca uma oposição quantitativa (um rebanho/dois rebanhos), ao contrário de outros colectivos que não a aceitam, a não ser como marca qualitativa (diz-se a fauna, mas a expressão as faunas refere-se a tipos de fauna).
No caso de felicidade, diremos que se trata de um nome comum, abstracto e não contável, podendo ainda ser classificado como não animado. No entanto, a sua classificação como nome humano/não humano tem o interesse de se relacionar com a compatibilidade deste nome com outros. Assim diz-se «a felicidade das crianças» porque o modificador preposicional inclui o plural de um nome humano criança; contudo, felicidade tem restrições em relação a nomes não humanos, pelo que é discutível a aceitabilidade das expressões ?«a felicidade das sardinhas» ou a ?«felicidade das portas».
Sendo assim, que fazemos com felicidade? Eu não diria que é um nome humano, mas que é um nome que tem traços humanos. Repare-se, aliás, que esta palavra é um derivado deadjectival, já que deriva de feliz. Sabendo que os adjectivos têm propriedades predicativas, percebe-se que os nomes resultantes da junção do sufixo -dade “herdem” essas características.
Em conclusão, em exercícios de classificação de um nome, podem-se cruzar as subclasses nominais descritas. Apesar disso, deve-se ter em atenção a compatibilidade entre palavras, na qual muitas vezes intervém não a sua classificação global como nome, mas, sim, a presença de traços semânticos que podem definir certas restrições. Felicidade seria, de qualquer modo, uma palavra que eu escolheria para suscitar alguma pesquisa numa actividade intitulada «oficina de escrita», mas nunca para fazer parte de um item de avaliação de conteúdos descritivos.