Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora
O neologismo <i>cosmeticorexia</i>
Um termo para a obsessão pela estética

Cosmeticorexia surge num contexto em que a preocupação com a imagem é crescente e notória, estando a atingir camadas muito jovens. Mas do que se trata, de facto, quando falamos em cosmeticorexia? Qual a origem do termo? A estas questões responde a consultora Sara Mourato, num texto onde aborda este neologismo.  

Pergunta:

Socorrendo-me do vosso excelente trabalho, pergunto como se pronuncia logos (razão): "lógus" ou "lógós"?

Resposta:

Há alguns aspetos a considerar dependendo da ortografia apresentada.

Em logos, com a ortografia apresentada pelo consulente, o segundo o pronuncia-se como [u], portanto, o correto será log[u]– [ˈlɔguʃ] – conforme atestado pelo Portal da Língua Portuguesa.

Contudo, se por outro lado se apresentar lógos, i. e., se tivermos a transliteração latina do grego λόγος, então a pronúncia deve refletir a original, com os dois o abertos – ['lɔgɔs]. Neste caso, lógos, acentuado, deve ser tratado como um estrangeirismo, em itálico. 

Note-se que a Infopédia refere que logos se pronuncia com os dois o abertos, mas com chiado, transcrito foneticamente como ['lɔɡɔʃ]. Contudo, esta pronúncia é discutível. 

Pergunta:

Gostaria de saber qual destas duas frases está correta e, se possível, porquê.

1. «Sentamo-nos em volta da vela acesa, e cada uma de nós se concentra no café para não ver a sombra que começou a passear-se, agitada, por todo o apartamento»

2. «Sentamo-nos em volta da vela acesa, e cada uma de nós concentra-se no café para não ver a sombra que começou a passear-se, agitada, por todo o apartamento».

Muito obrigada.

Resposta:

O quantificador universal distributivo cada admite a próclise (colocação do pronome oblíquo átono antes do verbo – exemplo 1.) e a ênclise (colocação do pronome oblíquo átono depois do verbo, separado do verbo por hífen – exemplo 2.), pelo que as duas frases apresentadas estão corretas: 

1. «Sentamo-nos em volta da vela acesa, e cada uma de nós se concentra no café para não ver a sombra que começou a passear-se, agitada, por todo o apartamento»;

2. «Sentamo-nos em volta da vela acesa, e cada uma de nós concentra-se no café para não ver a sombra que começou a passear-se, agitada, por todo o apartamento».

De acordo com a Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian (pág. 2253), «[...] não existem fatores semânticos ou estruturais que determinem uma [próclise] ou outra colocação [ênclise]», ainda que, para a autora do capítulo, Ana Maria Martins, «a próclise é a única colocação possível nas frases em que o quantificador cada antecede o verbo», aceitando, assim, somente a frase 1. 

Na Gramática da Língua Portuguesa, da Editorial Caminho (pág. 855), refere-se que cada admite próclise, mas não exige, pelo que sustenta a posição indiferenciada do pronome átono. 

A influência portuguesa na doçaria japonesa
Kompeitō e kasutera

A influência da presença portuguesa no Japão durante o século XVI, particularmente na alimentação e doçaria japonesa, é evidenciada neste texto com dois exemplos específicos: o kompeitō, um tipo de rebuçado típico japonês, e o kasutera, um bolo que guarda semelhanças com o pão-de-ló tradicional. O texto, da autoria da consultora Sara Mourato, explora a origem destes doces no Japão, assim como do nome que lhes é dado. 

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra yucateco é admitida na língua portugesa.

Vi-a nesta oração: «A palavra sabukatán é um termo yucateco, da península de Yucatán, no México».

Ainda sobre essa palavra, não tenho certeza se podemos escrevê-la com inicial maiúscula ou minúscula: é o nome de uma língua indígena, mas acredito que deveríamos escrevê-lo com minúscula.

No texto, observei que a editora preferiu manter as palavras em espanhol: yucateco – "iucateco" em português?

E Yucatán – "Iucatã" em português?

Muito obrigada.

Resposta:

Aquilo que se regista nos dicionários, nomeadamente no Houaiss, no que concerne a «relativo ao Iutacã (México) ou o que é seu natural ou habitante», é iucatego, iucatano ou iucateque. Trata-se de um nome masculino e adjetivo com origem no espanhol yucateco. Por não se tratar de um nome próprio, grafa-se com inicial minúscula, como sucede quando nos referimos a português, por exemplo. 

Relativamente ao aportuguesamento do nome da península mexicana, temos duas alternativas: Iucatã, na variante de português do Brasil, e Iucatão, na variante de português europeu.