Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Se decénio corresponde a 10 anos (ou uma dezena de anos), como poderemos chamar a 20 anos (duas dezenas de anos)? "Bi-decénio" terá sentido?

Desde já agradeço a atenção e resposta!

Resposta:

Segundo o Portal da Língua Portuguesa em linha, o termo que designa a unidade de tempo correspondente a um período de vinte anos é vinténio. Exemplo: «A votação da confiança no Governo marca uma vitória do "partido da estabilidade" e o fim do "vinténio berlusconiano"» (in Público, 4/10/2013).

Este termo muitas vezes ocorre em substituição da expressão «duas décadas».

Relativamente à palavra bidecénio, sugerida pelo consulente como designação para este período, não se encontra nenhum registo que a ateste, o que nos leva a crer que esta não é usada. Em alternativa, é correto dizer «dois decénios».

Pergunta:

Está correta a expressão «em aberto»?

Exemplo de frase: «A vaga está em aberto.»

Resposta:

Consultando o Dicionário Houaiss (Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss/Objetiva, 2001) e o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (em linha, Infopédia), verificamos que a locução adverbial «em aberto» é definida, no primeiro dicionário, como algo «não concluído, não terminado; não estabelecido claramente; indefinido» e, no segundo, como «não definido, por concluir». Estas definições levam-nos a concluir, à partida, que na expressão que a consulente apresenta o uso da locução «em aberto» não está correto.

No entanto, e apesar das definições apresentadas pelos dicionários, no Brasil esta locução usa-se no sentido de «não ocupado», «por ocupar», «aberto», quando associada com vaga. A esta conclusão chega-se ao consultar-se alguns sítios brasileiros: «vagas em aberto», «vaga em aberto». Trata-se de um uso discutível, que aqui não se recomenda, porque se afigura como uma distorção do significado original e uma forma rebuscada de dizer o mesmo que aberto («vaga aberta»).

Pergunta:

Agradeço me informem o significado (real e figurado) da expressão «palavra de honra».

Resposta:

A expressão «palavra de honra» designa a «promessa que se faz, dando como garantia a própria honra. Deu a sua palavra de honra» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa) ou a «declaração verbal de compromisso dada a outrem» (Dicionário Eletrônico Houaiss, Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss/Objetiva, 2001).

Se atendermos ao significado de «sentido figurado» dado pelo Dicionário Houaiss – «que se caracteriza por uso abundante e sistemático das figuras de palavras (tropos), como a metáfora, a metonímia e a sinédoque» –, pode-se considerar que «palavra de honra» é uma sinédoque, porque está por «promessa» ou «declaração de compromiosso», ou seja, o vocábulo palavra ocorre em alusão a uma realidade que faz parte, como sejam uma frase ou um enunciado. No entanto, esta sinédoque está totalmente integrada na linguagem corrente, de tal maneira que os dicionários chegam a indicá-la como uma extensão de sentido, como acontece no Dicionário Houaiss, que, entre as aceções que lhe atribui, define igualmente palavra como «manifestação verbal escrita; declaração». E recorde-se ainda outro exemplo, o de «pedir a palavra», que significa «solicitar permissão para falar, em reuniões, assembléias etc.» (idem).

Observe-se, além disso, que a locução «palavra de honra», seguida de oração completiva, vem a ser uma elipse da expressão «dou a minha palavra de honra», usada como sinónima do verbo jurar ou garantir. Não se afastando o significado destas expressões significativamente de «palavra de honra», quando introduzem uma oração subordinada substantiva completiva, o mais que se pode dizer é que são todas sinónimas. Ou seja, quando se diz que «palavra de honra que gostei» pode substi...

Pergunta:

Gostaria de saber o gentílico de Sena (Itália).

Desde já, muito obrigado!

Resposta:

Senês ou senense, segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss (Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss/Objetiva, 2001), são os termos correntes que denominam os habitantes de Siena (ou Sena)*, cidade da região da Toscana, em Itália.

*A forma portuguesa antiga é Sena, mas atualmente prefere-se Siena, mantendo a configuração da palavra em italiano (cf. José Pedro Machado, Dicionário Onomástco Etimológico da Língua Portuguesa). Sena é também a forma portuguesa que corresponde a Seine, nome do rio que, em França, passa por Paris (cf. idem).

Pergunta:

Gostaria de saber porque não consigo encontrar a palavra videoanalista registada em nenhum dicionário... Se videoartista, videoconferência, videoaula, videoarte existem enquanto palavras compostas, porque não existe videoanalista? A lógica de composição da palavra não é a mesma? Estamos perante o prefixo de origem latina video- (ou é um anglicismo?), que se aglutina com a palavra analista. Estou correta?

Agradecia muitíssimo se me puderem dar uma ajuda.

Resposta:

Tanto nos dicionários consultados como no Corpus do Português (Mark Davies e Michael Ferreira), não há de facto a ocorrência de videoanalista. Da mesma forma, não se encontram registos da ocorrência de "vídeo-analista" ou "vídeo analista". Desta forma, entendemos que a palavra é recente e que, à semelhança de outras palavras que ocorrem com o elemento video- (videoconferência, videoarte), a grafia correta será videoanalista.

Para se afirmar que esta será a grafia correta, é importante ressaltar que, do ponto de vista ortográfico, video-, ao contrário do que a consulente afirma, é tratado como prefixo, embora não o seja propriamente; comporta-se como tal, ou seja, é, como dizem certos gramáticos, um falso prefixo ou pseudoprefixo. Sobre isto, Lindley Cintra e Celso Cunha consideram que «certos radicais latinos e gregos adquiriram sentido especial nas línguas modernas» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 113) e assumem o sentido global dos vocábulos de que antes eram elementos componentes. Neste sentido, palavras em que ocorre o elemento video- como falso prefixo devem ser escritas atendendo aos critérios enunciados no Acordo Ortográfico de 1990, Base XVI, 1.º Apesar de este elemento não fazer parte de uma lista de falsos prefixos aí apresentada, verificamos que esta inclui tele-, que, tal como video-, é usado numa série de derivados relativos às tecnologias audiovisuais. Pode, portanto, aceitar-se que video- tem um comportamento semelhante e é tratado de acordo com as mesmas regras: aglutina-se geralmente ao elemento seguinte; se o segund...