Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual é a origem da palavra alferes?

Resposta:

O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Machado, J. P., 1977) atesta o substantivo alferes como sendo um substantivo que tem origem no árabe al-fāris, que significava «cavaleiro, escudeiro». Segundo o mesmo autor, «era costume confiar o estandarte real ao ginete (cavaleiro) mais destro».

Pergunta:

O uso de x na escrita para indeterminar o gênero de substantivos é uma tendência que se vê em alguns movimentos sociais ligados ao feminismo no Brasil. Não sei se em Portugal ou noutros países lusófonos existe alguma discussão similar.

Um exemplo desta tendência é registrado aqui.

O que me dizem sobre isto?

Obrigado.

Resposta:

Informalmente, no português escrito, são vários os símbolos e/ou letras que se usam em substantivos que marcam o género feminino e o género masculino simultaneamente. A letra x é, efetivamente, a letra que, ao ser utilizada em substituição do a e do o, letras que habitualmente marcam o género feminino e masculino, está a construir uma palavra neutra em género (ex.: «Nome dx alunx»). No entanto, é a arroba – @ – o símbolo mais usado para referir ao mesmo tempo os géneros feminino e masculino (Ex.: «Nome d@ alun@»). Este uso preferencial da arroba relaciona-se com o facto de o sinal gráfico se formar com um a minúsculo envolto num círculo aberto, o que tem sido interpretado como uma sobreposição das letras a e o. O uso deste símbolo é ainda reconhecido por linguistas e está consagrado em glossários (cf. Glossário de Termos da Internet da Universidade de Vigo). Além destas duas propostas de letra e símbolo para referir os dois géneros, há ainda uma outra que se prende com o uso da vogal æ (deriva da ligadura entre as vogais a e e) em substantivos que se refiram aos dois géneros no plural (ex.: professoræsver:Ciberdúvidas da Língua PortuguesaWikipédia).

Pergunta:

Quando me refiro à palavra invernia, algumas vezes corrigem-me sugerindo que use invernada.

Gostava de saber se posso continuar a usar a expressão «áreas tradicionais de invernia de grous...», por exemplo.

Grato.

Resposta:

Segundo o Dicionário Houaiss (2001), invernia e invernada são dois substantivos sinónimos que significam «tempo frio e de chuvas abundantes; inverno, inverno rigoroso, inverneira», pelo que é aceitável usar um substantivo em substituição do outro: «noite de invernia»/«noite de invernada».

No discurso sobre a vida animal, verifica-se o uso de invernia para referir o período de inverno: «as aves marinhas, desde há muito mais tempo utilizam a ilha do Corvo como escala nos seus trajetos de migração, invernia ou veraneio» (Ilha do Corvo – a Conservação Marinha como Opção de Desenvolvimento).

Pergunta:

Poderiam dar-me uma explicação quanto à colocação do acento agudo nas formas do plural dos substantivos terminados em -l? Porquê jornal < jornais, animal < animais mas papel < papéis, caracol < caracóis?

Obrigada!

Resposta:

A acentuação do plural de papel – papéis – e caracolcaracóis – deve-se ao facto de estarmos perante palavras oxítonas terminadas em ditongos semiabertos, –ei e –oi. Todas as palavras oxítonas que terminam desta forma são sempre acentuadas (ex.: papéis, anéis, fiéis). Note-se que, se não acentuarmos a palavra papeis, o ditongo –ei passa a ter um timbre fechado, e a palavra corresponde à 2.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo do verbo papar.

Pergunta:

Tenho ouvido falar de "cromosoma" e de "cromossoma", tendo também visto ambas as grafias. São ambas consideradas corretas, ou deve-se empregar apenas uma e, nesse caso, qual?

Obrigado.

Resposta:

Não há nenhum registo que ateste a forma “cromosoma” em língua portuguesa, pelo que o correto será empregar o substantivo cromossoma ou cromossomo1quando nos referimos à «estrutura composta de ADN, normalmente associada à proteína e que contém genes arranjados em sequência linear, visível ao microscópio durante a divisão celular» (Dicionário Eletrônico Houaiss, 2001). Note-se que a grafia deste substantivo em língua espanhola é cromosoma, facto que poderá estar na origem da questão apresentada pelo consulente.

1 Consultando algumas fontes brasileiras, verifica-se que ou se dá preferência a cromossomo, remetendo para esta forma a variante cromossoma (caso do Dicionário Houaiss) ou é cromossomo a única forma registada (cf. Dicionário UNESP do Português Contemporâneo e Guia de Uso do Português, de Maria Helena de Moura Neves).