Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber se é possível utilizar o plural da palavra telex, e nesse caso como se forma. Isto é, na expressão «O telex foi enviado pela Comissão Europeia ao Estado» pode passar-se o sujeito da passiva para o plural (os telexes?) ou deve reconstruir-se a frase, inexistindo plural da palavra telex?

Resposta:

A palavra telex tanto designa o sistema telegráfico que utiliza teleimpressores como a mensagem expedida ou recebida por esse meio.

Telex tem origem no inglês telex, abreviatura de teleprinter exchange (intercâmbio de teleimpressores), tendo sido aproveitadas as primeiras sílabas para a formação da nova palavra, e chegou ao português pelo francês télex.

Na frase que apresenta, é possível utilizar o plural da palavra, pois ela está a designar uma mensagem expedida ou recebida por meio de teleimpressores. O plural é telexes.

Pergunta:

Estou estudando sobre literatura e não estou entendendo muito bem o que é plurissignificação na literatura. Poderia me ajudar a entender?

Resposta:

Como verifiquei que nos escreve do Brasil, vou dar-lhe a explicação de acordo com o que Massaud Moisés refere na obra Dicionário de Termos Literários, citando Philip Wheelwright: a plurissignificação é uma característica da linguagem literária que consiste em um símbolo expressivo tender, em qualquer circunstância da sua realização, a conter mais do que uma referência legítima, de tal forma, que o seu sentido exacto se torna a tensão entre duas ou mais direcções da carga semântica.

Ou seja, em oposição ao discurso científico, que se caracteriza pela univalência dos signos, o texto literário (sobretudo o poético) tem um carácter ambíguo ou múltiplo, devido, naturalmente, ao facto de utilizar uma linguagem por excelência metafórica.

Pergunta:

Gostaria de saber a explicação do provérbio «Quem vê cara não vê coração».

Resposta:

Para se compreender bem o provérbio «Quem vê caras não vê corações», importa analisar o que significam a cara e o coração, as duas palavras-chave desta frase.

A cara é uma parte do corpo humano que todos podem ver, que tem uma determinada aparência conferida pelo conjunto dos seus elementos (olhos, boca, nariz, maçãs do rosto, tom de pele, etc.) e que identifica o indivíduo. Além disso, a cara é um meio privilegiado de manifestação de sentimentos, estados de espírito, pensamentos: os olhos, as sobrancelhas, a testa, a boca podem assumir uma série de posições, realizar toda uma mímica reveladora do que a pessoa é, sente ou pensa. A própria boca, por si só, claro, também verbaliza o pensamento. Ora, apesar de a cara identificar o indivíduo, ela pode ser alterada, retocada, pintada e, por outro lado, uma cara fisicamente bonita não indicia forçosamente que a pessoa seja bela interiormente, ou seja, tenha bons sentimentos. Por outro lado, pela cara pode manifestar-se um sentimento que verdadeiramente não exista: há quem sorria e esteja triste; há quem assuma um ar sereno, apesar de estar zangado.

O coração é um órgão que está no interior do corpo humano, não sendo portanto visível (a não ser que estejamos numa mesa de operações...). É um órgão essencial, tradicionalmente associado à vida e aos sentimentos, à maneira de ser.

No provérbio pretende dizer-se que quem vê caras vê apenas o exterior, vê apenas a aparência, vê apenas o que está à mostra ou lhe querem mostrar, mas não vê corações, ou seja, não sabe o que a pessoa realmente pensa ou sente, não sabe, por exemplo, se a pessoa tem uma doença, pode não se aperceber até da verdadeira natureza, da verdadeira maneira de ser de quem está à sua frente.

Este provérbio pode ser utilizado em diversas situações. Dois exemplos:

Pergunta:

No programa Cuidado com a Língua que foi para o ar no dia 18 de Maio (se não estou em erro), na secção em que alertam para erros verificados em publicidade e afins, referiram, a propósito do DVD Sei o Que Fizestes no Verão Passado, que a expressão "fizestes" não pode ser utilizada «nunca, jamais, em tempo algum». Mas então... como se conjuga a 2.ª pessoa do plural do verbo fazer no pretérito perfeito? Não é «vós fizestes»? Ora, quem profere este título é o misterioso assassino, dirigindo-se a um grupo de jovens: eu sei o que (vós, jovens) fizestes o Verão passado! Incorrecto seria o muito comum "fizestéis"! Ou será que está algo a falhar no meu raciocínio (o que admito desde já)?

Resposta:

O consulente tem toda a razão. Fizeste («tu fizeste») é a segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo fazer; fizestes («vós fizestes») é a segunda pessoa do plural.

No programa televisivo, a correcção foi feita por se ter considerado que estava a ser utilizada a segunda pessoa do singular (tu), e não a segunda do plural (vós).

Pergunta:

Casamento é da família da palavra casa?

Resposta:

Casamento é, sim, da família da palavra casa.

Casamento significa o acto ou efeito de casar: é um substantivo derivado do verbo casar  (casar + mento). Por sua vez, casar é um verbo formado do substantivo casa, pois o acto do matrimónio faz com que se constitua uma nova casa.