Pergunta:
Sou de uma família do Douro Litoral, embora viva há alguns anos em Lisboa. Numa visita à minha mãe, ouvi-a usar a expressão «Outra venha que rabo tenha». Esta expressão, como outras, infundem uma grande riqueza na língua. Pessoalmente, já a tinha esquecido da minha infância. Procurei-a na Internet, mas apenas encontrei uma breve referência ao seu uso n´O Malhadinhas, de Aquilino Ribeiro. Gostaria de saber qual a sua origem e qual o seu sentido, ao certo. Grato desde já pela vossa atenção.
Resposta:
A expressão «Outra venha que rabo tenha» surge numa passagem do primeiro capítulo da novela O Malhadinhas, de Aquilino Ribeiro, que não resisto a transcrever.
O protagonista, António, o Malhadinhas, pretende casar com a prima (como era costume na época), que também lhe quer bem, mas começa a desconfiar de que ela se interesse pelo abade de Britiande, «homem novo, muito bem afigurado, pregador de fama e grande batedor de montanhas, provido numa das freguesias mais rendosas da diocese», «que a vira na festa do Mártir e ficara a morrer por ela», passando a fazer montarias naquela zona e a hospedar-se em casa do pai da rapariga «com muito alarde e folgança».
Trava-se, então, o seguinte diálogo entre os dois:
«— Que mal te fez o senhor abade, primo? Então já não é senhor de estar onde lhe apeteça?
— É; mas eu também sou senhor de lhe fazer a barba à coroa, cá a meu modo, para lhe lembrar que é casado com a Igreja.
— Credo!
— Credo, digo eu. O padre é o vosso santantoninho por quem sois. Cuidas que sou cego? Mais do que uma vez te apanhei a espenujares-te diante dele, que nem parecias donzela de assento.
— Anjo custódio! Outra venha que rabo tenha... Rio-me para ele; que mal tem?
— Tem muito. Alguém acredita que o coroado vem para aqui caçar por caçar? Lebres e perdizes tem-nas a dois passos, a dar com um pau, na serra de Tarouca.
Ela fitou-me muito séria no fundo das meninas a escrutinar, e tornou:
— Vem então pelos meus bonitos olhos?»
Com este contexto, compreende-se que a frase ...