Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Agradecia o favor de me informarem qual o plural de «fala-barato».

Agradecido.

Resposta:

Esta palavra fica invariável no plural: "Ele é um fala-barato.", "Eles são uns fala-barato."

Trata-se de uma palavra composta por duas que ficam invariáveis quando elementos de composição: uma forma verbal e um adjectivo com valor adverbial.

Pergunta:

Gostaria de saber um pouco mais sobre as funções da língua portuguesa.

Desde já obrigado.

Resposta:

As funções da língua portuguesa são idênticas às de qualquer língua.

   Partindo do princípio de que a sua dúvida não incide na especificidade do português, direi que função é termo utilizado para referir o objectivo com que é usado um enunciado ou uma unidade da língua. No estudo dos enunciados, dos diferentes fins que atribuímos à significação de um enunciado no momento da sua produção, podemos analisar as chamadas "funções da linguagem".

   O estudo das funções da linguagem tem sido feito por vários linguistas. Referirei os quatro mais significativos: Karl Buhler, Roman Jakobson (anos 50), John Lyons e M A. K. Halliday.

   Karl Buhler apresenta três funções da linguagem:

   1 - a representativa: a língua é um sistema de representação de tudo aquilo que constitui para o homem o pensável, tem a função de elaboração do pensamento; através da língua o homem veicula o mundo exterior e interior;
   2 – a expressiva: ao utilizar a língua, o sujeito falante manifesta uma atitude, uma posição, um ponto de vista (de natureza intelectual, psicológica, moral ou afectiva) em relação àquilo de que fala;
   3 - a apelativa: o emissor visa uma reacção por parte do receptor da mensagem.

   Roman Jakobson define seis funções da linguagem, fazendo corresponder cada uma delas aos seis factores com que caracteriza a comunicação verbal, o destinador, o destinatário, o contexto, a mensagem, o código e o contacto. Conquanto as mensagens conjuguem normalmente mais do que uma função, podemos distinguir a que é predominante:

   1 - a função emotiva é a determinada pelo emissor, pelo destinador, que visa exprimir a sua atitude perante aquilo de qu...

Pergunta:

Ficaria muito grato se me indicassem quais as frases seguintes incorrectas, correctas, ou pelo menos toleráveis e, se possível, com comentários:
   1 - a) ... o professor recomendou que os alunos deveriam estudar mais ...
   ou
   b) ... o professor recomendou que os alunos deviam estudar mais ...
   2 - a) ... o turista procurou o posto de turismo para saber onde poderia encontrar...
   ou
   b) ... o turista procurou o posto de turismo para saber onde podia encontrar...
   3 - a) ... vaticinou que o filho a nascer seria mais famoso que o pai...
   ou
   b) ... vaticinou que o filho a nascer viria a ser mais famoso que o pai...
   4 - a) ... e nesse tempo escreveu o novo romance que viria a ser um sucesso...
   ou
   b) ... e nesse tempo escreveu o novo romance que veio a ser um sucesso...
   5 - a) ... o aluno consultou o assistente para saber como haveria de conduzir o trabalho...
   ou
   b) ... o aluno consultou o assistente para saber como havia de conduzir o trabalho...
   6 - a) ... deu-lhe indicações quanto ao caminho que deveria tomar e advertiu-o dos contratempos que haveria (teria) de enfrentar...
   ou
   b) ...
   deu-lhe indicações quanto ao caminho que devia tomar e advertiu-o dos contratempos que havia (tinha) de enfrentar...
   Antecipadamente agradecido pela vossa ajuda.

Resposta:

1. a) e b) Não utilizaria cumulativamente os verbos "recomendar" e "dever". Na recomendação está contida a indicação de um dever. Assim, escreveria algo do género: "o professor recomendou que os alunos estudassem mais" ou "o professor disse que os alunos deveriam (deviam) estudar mais".
   Tanto poderá utilizar aqui o condicional como o pretérito imperfeito do indicativo.
   1. a) A utilização do condicional (futuro do pretérito, na nomenclatura gramatical brasileira) decorre do facto de a acção do verbo em causa se situar posteriormente à do verbo superior (da oração subordinante), que se encontra no pretérito perfeito.
   1. b) A utilização do pretérito imperfeito em substituição do condicional é usual, principalmente na conversação, quando se pretende exprimir a segurança do falante. Com os verbos modais, como dever, poder, querer, desejar, saber, sugerir, etc., é também frequente a substituição do condicional pelo imperfeito.
   2. a) e b) Poderá utilizar ambas as formas, com a justificação acima apresentada. A expressão final "para saber" anuncia a ideia de "futuro do pretérito" (terminologia gramatical brasileira).
   3. a) e b) A justificação do emprego do condicional é a mesma da do exemplo 1 a). No exemplo 3 b), a utilização da perifrástica (viria a ser) com o verbo vir regido da preposição a, junta à significação do verbo ser a ideia de "por fim". Assim, a segunda frase deste conjunto tem um sentido ligeiramente diferente do da primeira.
   4. a) O emprego deste condicional ocorre numa oração relativa que tem por antecedente a escrita (no passado, no pretérito) de um romance que, num futuro em relação a esse pretérito virá ser um sucesso. Daí o uso do condicional, com construção idêntica à de 3 b).
   4. b) O uso do pretérito perfeito (veio) também es...

Pergunta:

Deverá dizer-se "tipos de transporte" ou "tipos de transportes"?

Resposta:

Deverá dizer-se "tipos de transporte" (transporte aéreo, marítimo, fluvial, rodoviário, ferroviário, etc.), bem como "meios de transporte" (o avião, o navio, o automóvel, o comboio, etc.). Nestas expressões, a palavra "transporte" está utilizada na acepção de acto, efeito ou operação de transportar.

Pergunta:

Embora os verbos "falar" e "dizer" possuam significados idênticos, sendo normalmente utilizados como sinónimos, a sua utilização é significativamente diferente. Como tal, gostaria que me dissesse quais as regras de utilização de um e de outro. Além disso, gostaria de saber se o verbo "falar" se poderá empregar no seguinte contexto: "Mas o que é que estás para aí a falar?".
   Obrigada pela vossa atenção.

Resposta:

O verbo falar ou é intransitivo ou se utiliza com preposição (falar de, falar em, falar com, falar a, falar sobre).
   Ex.: Ele fala muito bem. (intransitivo).
   Ele é capaz de falar em público. (intransitivo)
   Ela falou de tudo.
   Eles falam em organizar o curso de outra maneira.
   Nós falamos com os alunos.
   Jesus falou à multidão.
   Não sei falar sobre isso.
   O verbo dizer exige complemento directo sem preposição (predominantemente) ou regido da preposição "de".
   Ex.: Ele disse uma verdade.
   Vou dizer-te um segredo.
   Digo-te que não percebi nada.
   Que me dizes disto? (com a preposição "de")
   A frase que apresentou não está totalmente correcta, porque o verbo falar está aí utilizado como se pedisse um complemento directo sem preposição: "falar o que". A frase correcta seria: "Mas, de que é que estás para aí a falar?" (falar de, neste caso). Em alternativa, poderia dizer ou escrever: "Mas, o que é que estás para aí a dizer?"
   Para terminar, só acrescentaria que há uma certa diferença de sentido entre os dois verbos. Falar designa genericamente o acto de se exprimir oralmente por palavras, mas dizer associa a este aspecto o de veicular uma informação, referir, indicar, pronunciar-se sobre, comunicar (em geral, oralmente e por escrito). Às vezes até se diz esta frase, em tom jocoso: "Olha, ele está a falar, mas não está a dizer nada."