Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Poderia dizer o antônimo de malogrado?

Seria algo como bem-logrado?

Resposta:

Não, não existe a forma que propõe, porque o verbo malograr — a partir do qual se formou a palavra malogrado — foi simplificando a sua forma original (a forma erudita mallogrado, de mal- + lograr) e aglutinou os dois ll que tinha no séc. XVIII. Por isso se perdeu a ideia de composição da palavra original, razão pela qual não se pode pensar numa possível formação de uma palavra composta do tipo que nos indica.

De qualquer modo, manteve-se o sentido original. Lograr é sinónimo de «lucrar (forma divergente), gozar a posse de, conseguir, ter bom resultado, ter êxito». Portanto, malograr é o antónimo de lograr, significando «fazer gorar, frustrar, fracassar».

Ora, naturalmente, a palavra malogrado, que é um adjetivo participal (pois é a forma do particípio passado do verbo malograr), designa «que teve mau êxito, mal sucedido, fracassado, frustrado, infeliz». Por isso, várias são as palavras que podem ser antónimos de malogrado: afortunado, venturoso, feliz, vitorioso, realizado, bem-sucedido.

Pergunta:

Qual o antónimo de egoísta?

Resposta:

Altruísta ou altruístico são os  antónimos de egoísta.

O adjetivo e nome (dos dois géneros) altruísta, assim como o adjetivo altruístico, designa aquele que se dedica aos outros, ao próximo, ao bem social (razão pela qual é sinónimo de filantropo), o que se opõe ao egoísta, o que pensa só em si próprio, «pessoa que só trata de si ou dos seus interesses» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010).

Aliás, altruísta e altruístico são as únicas palavras que se encontram registadas no Dicionário Houaiss de Sinônimos e Antônimos (2003) como antónimos de egoísta, individualista, egocêntrico, egotista.

Pergunta:

Preciso de saber se o grau superlativo absoluto sintético de simples.

Resposta:

Embora a forma mais conhecida — a herdada da forma latina (simplicissĭssimu-) de que deriva — seja seja simplicíssimo(a), Celso Cunha e Lindley Cintra indicam também simplíssimo como superlativo absoluto sintético, que, por sua vez, se formou «pelo acréscimo ao adjetivo simples do sufixo -íssimo» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, pp. 258-259), forma esta que difere sensivelmente da latina.

Pergunta:

A palavra pluriculturalidade existe?

Se sim, qual o seu significado?

Resposta:

Se tivermos em conta que pluri- (do latim plus, pluris, «mais») é um «elemento de formação de palavras que exprime a ideia de mais de um, vários»1 — tal como o elemento de formação multi- (com valor de muito, muitas vezes) a partir do qual se formou a palavra multicuralidade —, não há dúvida de que o termo pluriculturidade está bem formado, sendo sinónimo de multiculturalidade, designando «qualidade do que é multicultural, isto é, do que é relativo a várias culturas simultaneamente»1.

Repare-se que poderemos tomar como referência a existência de duas palavras sinónimas de formação idêntica: plurilinguismo e multilinguismo.

1 Cf. Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010.

Pergunta:

No meu convite de casamento, que vou imprimir, está escrito:

«Karina e Rodrigo convidam para a celebração do seu casamento.»

Ficam em dúvida na utilização do pronome seu.

Ficarei muito grata se puder me ajudar.

Obrigada.

Resposta:

O uso do determinante possessivo seu para se referir a duas pessoas (Karina e Rodrigo) é correto, porque é essa a forma correspondente ao género (masculino) e ao número (singular) da coisa possuída/referida (casamento) e ao número de pessoas representadas pelo possuidor (dois).

Segundo a regra, «as formas de determinantes e pronomes possessivos variam de acordo com o género e o número da coisa possuída e com o número de pessoas representadas no possuidor» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 319), apresentando, por isso, três séries de formas, correspondentes às pessoas e aos objetos a que se referem.

Repare-se que, para o uso dos possessivos, se tem de ter em conta as seguintes realidades: se se trata de um ou de vários possuidores (as pessoas a quem se referem) e de um ou vários objetos possuídos. Por isso, quer se tratasse de uma ou de várias pessoas (3.ª pessoa) possuidoras de um único objeto, as formas de possessivo são sempre seu ou sua. Por exemplo:

«A Maria gosta da sua casa.»

«A Maria e o marido, o Luís, gostam da sua casa.»

A forma de possessivo só seria plural (seus ou suas) se se referisse a mais do que um objeto de uma ou de várias pessoas. Por exemplo:

«A Maria faz os seus trabalhos com as suas colegas.»

«A Maria e as suas colegas fazem os seus trabalhos.»