Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Apesar de ter dado uma lida prévia em perguntas parecidas, não ficou claro para mim como proceder. Por favor, gostaria que esclarecessem:

Depois de ponto de exclamação ou de interrogação, quando o pensamento não estiver inteiramente completo ou quando se seguir uma oração de narrador, usa-se letra maiúscula ou minúscula? Exemplos:

«Que é isso? você enlouqueceu?»

«No mundo tereis tribulação, mas, coragem! eu venci o mundo.»

«Que paisagem linda! exclamou Pedro.»

«Que você dizia? indagou Lúcia»?

Ou:

«Que é isso? Você enlouqueceu?»

«No mundo tereis tribulação, mas, coragem! Eu venci o mundo.»

«Que paisagem linda! Exclamou Pedro.»

«Que você dizia? Indagou Lúcia»?

Resposta:

Tanto o ponto de interrogação como o de exclamação são considerados sinais de pontuação que indicam, ao mesmo tempo, a melodia e a pausa. Um e outro são usados, respetivamente, no fim de qualquer interrogação direta e de enunciados de entoação exclamativa, o que pressupõe o término de um discurso. Aliás, já Rodrigo de Sá Nogueira, na sua Guia Alfabética da Pontuação (Lisboa, Clássica Editora, 1973, p. 65) nos indica que «o ponto de exclamação ou de admiração, que graficamente é simbolizado pelo sinal !, e o ponto de interrogação, que graficamente é simbolizado pelo sinal ?, têm na essência o mesmo valor do ponto final, apenas com a particularidade de imprimirem à frase a entoação da exclamação, da admiração, do espanto, da surpresa e a entoação específica de interrogação, de pergunta, de inquirição, respetivamente».

Se partirmos, portanto, do princípio de que a frase que se segue inicia um novo discurso, não há dúvida de que se deve «empregar a letra inicial maiúscula no começo desse discurso» (Rocha Lima, Gramática Normativa da Língua Portuguesa, 1967), o que se verifica nos exemplos retirados da Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Sá da Costa, 2002), de Cunha e Cintra:

«— Se sai? Já saiu! Não viu os jornais?» (Erico Verissimo, O Tempo e o Vento, 253)

«Estará surdo? Estará a tentar irritar-me? (Sttau Monteiro, Angústia para o Jantar, 101)

«— Ah, é a senhora?! Pois entre, a casa é sua...» (Aníbal M. Machado, Histórias Reunidas, 86)

«— Não vás! Volta, meu f...

Pergunta:

Gostaria de saber a historia do sobrenome Magoito, pois só encontro referência ao mesmo no Diccionario d´Appellidos Portuguezes (1908). Associando ao nome a «povoação nossa». Porém, não existe rasto de família com esse nome na Aldeia de Magoito e nem no lugar de Magoito em Castro Marim. Se puderem ajudar, agradeço.

Resposta:

Segundo o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (vol. II), de José Pedro Machado, o apelido Magoito tem origem no topónimo com o mesmo nome de Castro Marim ou de Sintra.

Como ocorre com frequência, este deve ser um dos apelidos que resultam do nome dado a alguém que morava em Magoito. Repare-se na citação apresentada por José Pedro Machado: «morador em Magoute».

Pergunta:

Na frase «O coco era gordo, carnudo e leitoso, o doce ficou excelente», destaque os verbos desse período e separe as orações.

Resposta:

A frase — «O coco era gordo, carnudo e leitoso, o doce ficou excelente» — é formada por duas orações coordenadas copulativas:

1.ª — «O coco era gordo, carnudo e leitoso» — primeira oração coordenada;

2.ª — «o doce ficou excelente» — oração coordenada copulativa assindética (porque está ligada à oração anterior por uma vírgula e não pela conjunção e).

Analisando as duas orações:

1.ª oração: Sujeito: «o coco»; predicado: «era gordo, carnudo e leitoso»; «era»: verbo (nominal); «gordo, carnudo e leitoso»: predicativo do sujeito.

2.ª oração: Sujeito: «o doce»; predicado: «ficou excelente»; «ficou»: verbo (nominal); «excelente»: predicativo do sujeito.

Pergunta:

Tenho a seguinte questão que gostaria que esclarecessem:

Como posso distinguir o sujeito simples do sujeito expresso simples? Quando eu digo: «A Joana comeu um gelado», é sujeito simples ou sujeito expresso simples?

Resposta:

Um sujeito expresso é todo aquele que tem realização lexical, ou seja, aquele que não surge escrito.

Na frase que nos apresenta, o sujeito tem realização lexical, pois é expresso pelo grupo nominal «A Joana», que, por sua vez, é um sujeito simples.

Ora, o único tipo de sujeito que não tem realização lexical, o que significa que não é expresso, é o sujeito nulo [«Sujeito nulo – sujeito sem realização lexical» (Dicionário Terminológico)]. Por isso, parece ser redundante a classificação de sujeito expresso simples.

Repare-se nas indicações do Dicionário Terminológico para o sujeito simples: «Sujeito constituído exclusivamente por um grupo nominal (i) ou por uma oração (ii). A este contrapõe-se o sujeito composto. Exemplos:

(i) [O Manuel] telefonou pelas nove horas.

(ii) [Quem não arrisca] não petisca.»

Pergunta:

Como se faz a translineação da palavra designar? De que lado fica a letra g?

Resposta:

A translineação da palavra designar é feita do seguinte modo: 

 

Portanto, separam-se as consantes que não fazem parte da mesma sílaba, seguindo-se o estipulado pelo ponto 2 da Base XX do Acordo Ortográfico de 1990: «São divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem propriamente grupos e igualmente as sucessões de m ou n, com valor de nasalidade, e uma consoante: ab-dicar, Ed-gardo, op-tar, sub-por, ab­soluto, ad-jetivo, af-ta, bet-samita, íp-silon, ob-viar; des-cer, dis-ciplina, flores-cer, nas-cer, res-cisão; ac-ne, ad-mirável, Daf-ne, diafrag-ma, drac-­ma, ét-nico, rit-mo, sub-meter, am-nésico, interam-nense; bir-reme, cor-roer, pror-rogar; as-segurar, bis-secular, sos-segar; bissex-to, contex-to, ex-citar, atroz-mente, capaz-mente, infeliz-mente; am-bição, desen-ganar, en-xame, man-chu, Mân-lio, etc.»