Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual a maneira correta de escrever?

"a la minuta"

"ala minuta"

"alaminuta"

Resposta:

A grafia mais adequada é «à la minuta», que é uma adaptação popular, ao português europeu, do francês «à la minute», expressão usada para designar «no momento imediato», conforme se regista no Grande Dicionário da Língua Portuguesa 2010, da Porto Editora). No português do Brasil, a mesma locução francesa foi aportuguesada sob a forma «à minuta» (ver dicionário da Academia das Ciência de Lisboa e Dicionário Houaiss). 

 

Pergunta:

Qual das sequências está correta?

«Elevar as expetativas no tratamento»,

ou

«Elevar as expetativas do tratamento»?

A frase está a referir-se a uma nova terapêutica com resultados significativamente superiores aos existentes anteriormente.

Resposta:

«Elevar as expetativas/expectativas1 do tratamento» — à semelhança de «estar na expetativa de» para se designar «ter esperança, desejar, esperar» — parece-nos ser a forma mais correta, usando a preposição de, regência do nome/substantivo expetativa2.

Nota: Parece-nos que não será incorreto o uso das locuções preposicionais relativamente a e quanto a. Exemplos: «Tenho alguma expectativas/expetativas relativamente à avaliação deste processo.»

1 As duas formas — expetativa e expectativa — encontram-se registadas nos vários vocabulários ortográficos (portugueses e brasileiro): Vocabulário Ortográfico do Português (do ILTEC), pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (da Porto Editora) e pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (da Priberam), assim como pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras. A atestação das duas variantes deve-se ao facto de o c da sequência ct ser (ou não) proferido nas pronúncias cultas da culta (conforme o ponto 1 da ...

Pergunta:

«A fim de completar o processo, uma vez que ainda não foi deferido, junto envio os seguintes documentos.»

«A fim de completar o processo, uma vez ainda não deferido, junto envio os seguintes documentos.»

Das frases acima, qual a correcta?

Resposta:

«A fim de completar o processo, uma vez que ainda não foi deferido, junto envio os seguintes documentos» é a forma correta da frase.

Repare-se que a expressão «uma vez que» é um conetor causal, conferindo à oração que inicia — «uma vez que ainda não foi deferido» — o valor causal, de causa (a causa, a razão) a partir da qual resulta a situação apresentada. Repare-se que «uma vez que» poderia ser substituído por qualquer um dos conetores causais:

«A fim de completar o processo, visto que ainda não foi deferido, junto envio os seguintes documentos.»

«A fim de completar o processo, dado que ainda não foi deferido, junto envio os seguintes documentos.»

«A fim de completar o processo, como ainda não foi deferido, junto envio os seguintes documentos.»

«A fim de completar o processo, porque ainda não foi deferido, junto envio os seguintes documentos.»

Nota: A expressão «uma vez» a introduzir uma oração (com o verbo no particípio) corresponde a quando ou logo que, equivalendo a uma estrutura com valor temporal. Exemplos: 

«Uma vez deferido o processo, resolvo a situação» (= «Logo que o processo seja deferido, resolvo a situação»; «Quando o processo for deferido, resolvo a situação»).

Pergunta:

Qual o grau empregado no adjetivo limpidíssimo, já que o superlativo de limpo é limpíssimo?

Resposta:

Limpidíssimo é o superlativo absoluto sintético do adjetivo límpido [límpid(o) + -íssimo = limpidíssimo1] que, embora seja utilizado também como sinónimo de limpo2, se distingue deste termo pelo facto de designar ainda outras realidades, outros valores como «transparente; claro; puro; desanuviado; sem nuvens» e, em sentido figurado, «sereno, tranquilo; ingénuo; franco».

«O céu/tempo está limpo/limpíssimo.»

«O céu está límpido/limpidíssimo.»

«As águas deste rio são límpidas/limpidíssimas.»

«Ela é uma pessoa que não tem maldade. É pura e límpida/limpidíssima.»

 

1 Na formação do superlativo absoluto sintético, «se o adjetivo terminar em vogal, esta desaparece ao aglutinar-se o sufixio -íssimo: belo - belíssimo, lindo - lindíssimo, triste - tristíssimo» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2001, p. 258).

2 Os dois adjetivos — límpido e limpo — provêm do mesmo étimo latino limpĭdum-, razão pela qual são consideradas palavras divergentes: límpido formou-se por via erudita, enquanto limpo evolui por via popular.

Pergunta:

Gostaria de saber se há uma explicação para o fato de dizermos:

«O comboio passou pelo Porto», e não dizermos «O comboio passou pela Lisboa», mas, sim, «... por Lisboa». E, então por que não dizemos também «... por Porto»? Precisava de explicar esta diferença a uma aluna chinesa e não consegui encontrar uma justificação clara.

Resposta:

Há, de facto, uma explicação para o uso de pelo (contração/crase da preposição por com o artigo/determinante definido o) a preceder o topónimo  Porto e da preposição por a anteceder Lisboa.

Repare-se que, tal como dizemos «O Porto é a grande capital do Norte» e «Lisboa é a capital de Portugal», também a construção frásica difere nas frases apresentadas com referência a tais cidades: «O comboio passou pelo Porto» e «O comboio passou por Lisboa». Ora, tal situação deve-se ao facto de se utilizar o artigo/determinante definido a preceder o topónimo Porto (porque o nome próprio da cidade coincide com um nome comum: Porto – nome próprio de uma cidade – e porto – nome comum), o que não sucede com o topónimo Lisboa1.

Portanto, tudo depende da especificidade do topónimo (nome da localidade). Se o nome próprio da cidade coincidir com um nome comum, assume o determinante/artigo definido do nome comum («o Porto» e «o porto»), o que implica a ocorrência do determinante/artigo definido em estruturas com as preposições por [nas contrações/crases pelo(s) = por + o(s); pela(s) = por + a(s)] de [nas contrações/crases do(s) = de + o(s); da(s) = de + a(s)], em [nas contrações/crases no(s) = em + o(s); na(s) = em + a(s)] e a [nas contações/crases ao(s) = a