Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual a origem do apelido Reveles?

Resposta:

Da bibliografia específica consultada1, somente o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa regista o nome Reveles — «Reuelves em 1099»  — como «o patronímico (relativo ao nome dos pais) do antigo antropónimo masculino Revelo [Reuelle em 946, Reuelius em 952, e Reuelliz  em 960]» que se formou a partir do apelido Rebelo, cuja origem remete, por sua vez, para o apelido Rabelo, apelido este, «hoje pouco frequente, [que] ainda tinha muito uso nos princípios do séc. XVI».

É de referir que o nome próprio Reveles, para além de antropónimo (nome de pessoas), é também um topónimo (nome de lugar, de povoação) das regiões de Coimbra e de Montemor-o-Velho. No entanto, e contrariando a teoria da origem geográfica dos apelidos, neste caso, pensa-se que «foi o apelido que originou o topónimo e não o contrário».

1 J. Leite de Vasconcelos, Antroponímia Portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional, 1928; Rosário Farâni Mensur Guérios, Dicionário Etimológico de Nomes e Sobrenomes, São Paulo, 1973; Sebastião Laércio de Azevedo, Dicionário de Nomes de Pessoas, Rio de Janeiro, Ed. Civilização, 1993; Manuel de Sousa, As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas, Lisboa, Ed. Correio da Manhã, 2001; Orlando Neves, Dicionário de Nomes Próprios, Lisboa, Ed. Notícias, 2002.

Pergunta:

Gostaria de saber qual é o aumentativo de soldado, pois o diminutivo é soldadinho.

Por favor, aguardo retorno.

Resposta:

Enquanto nome/substantivo, a palavra soldado pode formar o grau aumentativo de duas formas:

— analiticamente, «juntando-lhe um adjectivo que indique aumento [grande, enorme], ou aspectos relacionados com essas noções» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 199), do que resultam formas como «grande soldado», «soldado enorme» (cujo valor é bastante diferente, pois um «grande soldado» corresponde a alguém que se distinguiu pelas suas qualidades enquanto soldado, ao passo que um «soldado enorme» designa um militar de estatura elevada);

— sinteticamente, «mediante o emprego de sufixos especiais» (aumentativos -ão, -aço, -aça, -uça, -ázio, -anzil, -aréu, -arra, -orra, -astro, -az; cf. idem, pp. 90-92), a partir do que se obtêm formas como: soldadão, soldadozão, soldadaço.

Exceptuando o caso de soldadão, que está atestado no capítulo «Aumentativos» de Nos Garimpos da Linguagem (Rio de Janeiro, Liv. São José, 1959), de Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes, as restantes formas são exemplos de possíveis aumentativos de soldado, feitas a partir das regras de formação dos aumentativos. Trata-se, portanto, de aumentativos que não se encontram dicio...

Pergunta:

Qual a origem do meu sobrenome Passos?

Resposta:

Há várias opiniões sobre a origem do apelido Passos, sendo-lhe atribuída a procedência da religião e a origem geográfica.

Segundo José Leite de Vasconcelos, em Antroponímia Portuguesa, (Lisboa, Imprensa Nacional, 1928), «o apelido Passos, se algumas vezes pode ser tirado da religião (cf. Senhor dos Passos), outras pode ser geográfico, e neste caso devia escrever-se Paços» (p. 171), o que é confirmado por José Pedro Machado, em Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (Lisboa, Horizonte, 2003).

Sobre a origem religiosa de Passos, José Pedro Machado explicita o processo que levou ao nome (hierónimo de Senhor dos Passos), recorrendo à etimologia de passo (enquanto plural do nome) que deriva «do latim passu-, particípio passado do verbo patior, “sofrer”, em alusão aos sofrimentos e Jesus Cristo» (idem, vol. III, p. 1139). Por sua vez, devido ao facto de o nome próprio Passos se distinguir do do topónimo Paços (frequente em Portugal e na Galiza, para designar as terras que rodeiam um palácio, formada a partir do plural de Paço: Paço da Rainha, Paço de Arcos, Paço de Sousa, Paços de Ferreira, Paços de Vilharigues) somente na grafia, é-lhe atribuída, também, a procedência geográfica.

Apesar da relação estabelecida entre este apelido e a geografia, o Dicionário Etimológico dos Nomes e Sobrenomes (São P...

Pergunta:

Se possível, gostaria de saber qual a origem do meu invulgar apelido.

Moro no distrito de Coimbra, mas a maior parte das pessoas que conheço com este apelido vive na zona de Palmela.

Obrigado.

Resposta:

O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (Lisboa, Horizonte, 2003), de José Pedro Machado, regista Machuqueira como nome próprio de um topónimo (nome de lugar) que ocorre em várias zonas de Portugal, mais propriamente nos concelhos de Chamusca e de Coruche (no Ribatejo), nos de Évora, de Gavião e de Ponte de Sor (no Alentejo) e, também, no de Pombal (na região centro). Por sua vez, tal topónimo deriva do termo machuqueiro, «com valor colectivo: “local onde há sobreiros novos”». 

A partir destes dados, e uma vez que não se encontra dicionarizado como apelido ou como antropónimo, o nome de família Machuqueiro deve estar, decerto, relacionado com o local de residência de algum elemento dessa família (que serviria de referência como sinal identificativo: «o de Machuqueira», «aquele senhor de Machuqueira») ou, então, designaria alguém que seria proprietário de um campo com sobreiros novos, um machuqueiro.

Como é do domínio comum, não é invulgar que os apelidos e os nomes de famílias estejam associados aos topónimos de onde eram naturais, onde residiam ou de que eram proprietárias, como se pode verificar pelo que nos diz José Leite de Vasconcelos, em Antroponímia Portuguesa (Lisboa, Imprensa Nacional, 1928), quando afirma que «a geografia gera apelidos por vários modos: dando um nome próprio, ou comum, de lugar, sítio, região, etc., ou dando um adjectivo, que pode chamar-se étnico» (p. 155), razão pela qual são designados por «apelidos de origem geográfica e étnica».

Pergunta:

Como se escreve a abreviatura de professor na gíria estudantil — "stor", "stôr", "s'tor", ou "s'tôr"? E, já agora, qual a sua origem?

Obrigado.

Resposta:

As formas que nos apresentou para designar professor enquadram-se no domínio da oralidade, porque ainda não se encontram dicionarizadas, nem mesmo na área das «Abreviaturas e Símbolos» do recente Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), da Porto Editora, assim como no Vocabulário Ortográfico do Português, da responsabilidade do ILTEC.

De fa{#c|}to, qualquer uma das formas indicadas não pode ser considerada uma abreviatura, porque não se restringe à escrita, como são os casos de «Sr. = senhor», «pág. = página», «fac. = faculdade», «Fr. = frade», «fl. = folha», «Dr.= Doutor», «V. Exa.= Vossa Excelência» (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2009). Aliás, a abreviação das palavras é tratada pelos gramáticos Cunha e Cintra como fruto do «ritmo acelerado da vida intensa dos nossos dias [que nos] obriga, necessariamente, a uma elocução mais rápida [resultando] na redução de palavras até limites que não prejudiquem a compreensão» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 1997, p. 116), de que são exemplo «auto (por automóvel), foto (por fotografia), moto (por motocicleta), pneu (por pneumático), quilo (por quilograma), etc.» (idem).

Parece tratar-se de um caso de amálgama — «processo irregular de formação de palavras que consiste na criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras» (Dicionário Terminológico) —,  uma vez que tais formas resultam da junção de duas palavras — senhor e doutor —, mais propria...