Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

A frase em análise é composta por:

Sujeito - «O candidato»
Predicado - «passei a ser eu»
Predicativo do sujeito - «eu»

Nem sempre o sujeito e o predicativo, embora refiram a mesma entidade, concordam em género, número ou pessoa. «Tudo o resto são mentiras» é uma frase aceitável, tal como a frase em apreço o é. Do meu ponto de vista, é, mesmo, preferível a «O candidato passou a ser eu». Até porque esta frase mantém a discordância de ...

O ser humano, enquanto falante e enquanto escrevente, usa, muitas vezes, de forma inadequada determinadas palavras. Ou então pronuncia-as ou escreve-as incorrectamente.

Com as novas tecnologias consagram-se, muitas vezes, lapsos antigos ou surgem outros novos.
Perguntaram-me, há dias, o que significava a palavra "fornia". Depois de pesquisar em todos os dicionários a que tive acesso e nada ter encontrado, recorri à Internet e verifiquei que, em português, a palavra tinha uma utilizaç...

Pergunta:

Sendo uma profissão onde já é normal encontrar muitas mulheres a desempenhá-la, gostaria de saber como as nomear.

Obrigado.

Resposta:

As mulheres colegas de trabalho dos carteiros são carteiras.

O facto de a palavra carteira ter um homónimo, isto é, uma outra palavra com igual grafia e sentido diferente, não vai, certamente, causar problemas de comunicação, pois o contexto ajuda a perceber o sentido. Numa frase como «A Maria é carteira», toda a gente vai perceber que carteira é a profissão da Maria. Do mesmo modo se se disser a «Maria perdeu a carteira», ninguém vai pensar que a Maria perdeu uma colega...

Há outras situações semelhantes, como, por exemplo, músico, cujo feminino, música, é homónimo de música, que complementa a letra de uma canção.

Por outro lado, quando dizemos que o «João é o corredor mais rápido da equipa» não pensamos naquela parte da casa que designamos com a palavra igualmente homónima de corredor...

Pergunta:

Li um texto em que se usou a expressão «local prístino» («Sebastião Salgado fotografa paisagens em áreas prístinas dos quatro cantos do mundo»), para indicar lugar remoto ou intocado. Em espanhol prístino tem (parece-me) esse sentido, mas os dicionários de português que consultei (Aurélio e Houaiss) só registram a acepção «antigo, prisco». Pode-se, afinal, dizer-se «fotografei animais nos locais mais prístinos»?

Resposta:

No Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, a palavra prístino tem como significados «antigo, primitivo, prisco». São também estes os significados que a palavra latina ‘pristinus’ tem no dicionário de latim. Não me parece difícil a aquisição de um novo sentido, que, partindo de primitivo, conduza a remoto, ou intocado, como já aconteceu noutras línguas. Além disso, o sinónimo primitivo permite uma interpretação adequada, pelo que não vejo por que não se possa utilizar a expressão «locais prístinos».

Pergunta:

Gostaria de saber como se chama gramaticalmente uma mesóclise dupla.

Resposta:

Os pronomes pessoais átonos associam-se, na língua portuguesa, aos verbos, podendo ocupar uma de três posições: 1 – vir antes, numa posição a que se dá o nome de próclise. Ex. «Não me digas»; 2 – vir depois, posição a que se dá o nome de ênclise. Ex. «Diz-me». Em caso de ênclise o pronome deverá vir ligado ao verbo por hífen; 3 – vir no meio do verbo e constituindo, assim, mesóclise. Esta última ocorrência só se verifica quando o verbo está no futuro simples ou no futuro do pretérito (ou condicional). Ex. «Dir-me-ás». Neste caso o pronome vem ligado, por hífen, às duas partes do verbo que separa.

Em qualquer das posições, próclise, ênclise ou mesóclise, é possível estabelecer a ligação de dois pronomes, desempenhando um a função de complemento directo e outro a de complemento indirecto: «Não mo disseste» [mo = me (complemento indirecto) + o – (complemento directo)]; «Traz-mo» ; «Trar-mo-ás».

Embora não tenha encontrado em nenhuma das gramáticas consultadas a referência explícita ao fenómeno mesóclise dupla, imagino que seja a esta situação que se refere, quando utiliza o numeral dupla. Por outro lado, mesóclise é o nome mais gramatical para o fenómeno gramatical de que estamos tratando!... Mário Vilela, na Gramática da Língua Portuguesa, dá a este fenómeno o nome tmese.

Consultando o dicionário ...