Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

A palavra transmontano (também existe trasmontano) considera-se derivada por prefixação e sufixação (trans + monte + ano) ou apenas por sufixação (derivada do topónimo Trás-os-Montes)?

Resposta:

A questão que coloca é pertinente. Tanto em Trás-os-Montes como em transmontano (ou trasmontano) existe um elemento de ligação, trans- (ou tras-), que é considerado por alguns estudiosos como elemento de formação de palavras e por outros como prefixo. Se considerarmos que trans- é um elemento de formação de palavras compostas, então a palavra transmontano é uma palavra composta (por trans + monte) e derivada por se lhe associar o sufixo -ano. Se, por outro lado, considerarmos o elemento trans- como prefixo, diremos que a palavra é derivada por prefixação e por sufixação.

Pergunta:

Em português, qual a correta grafia dos nomes de dois dos reis magos: "Belchior", ou "Belquior", ou "Melchior", ou ainda "Melquior"; "Baltazar", ou "Baltasar"? No caso de serem corretas as formas com ch, este vale /x/ ou /k/? A do terceiro, Gaspar, não suscita dúvidas.

Muitíssimo obrigado.

Resposta:

Em Portugal a grafia mais frequente é Melchior, tendo o -ch- o valor que tem na palavra chama, e Baltasar.

Ainda à volta do «ter de…»/«ter que…»
A tradição gramatical e o uso antigo

A diferença entre o ter de e o  ter que, neste contributo da professora Edite Prada.

Vide os textos relacinados com este assunto, ao lado.

No momento em que, FINALMENTE!, a Nova Terminologia para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS) parece despertar um interesse alargado, o Ciberdúvidas, que foi, durante todo o ano lectivo de 2005-2006, o espaço de discussão do documento através da resposta a todos quantos nos escreveram nesse sentido, talvez valha a pena ensaiar uma síntese das inovações que a TLEBS integra.
Salienta-se, desde logo, a sua estrutura, dividida em quatro domínios.

Pergunta:

Já está claro para mim que o antigo complemento circunstancial foi substituído pelo termo modificador. Submeto à vossa consideração a análise sintáctica desta frase: «Ontem, o João deu-lhe o livro no café.»

Eis como a analiso:

Sujeito: «O João».

Predicado: «Ontem, deu-lhe o livro no café».

Complemento directo: «o livro».

Complemento indirecto: «lhe».

Modificador (digo “modificador 1”, “modificador de tempo” ou simplesmente “modificador”?): «Ontem». 

Modificador (“2”, “de lugar” ou apenas “modificador”?): «no café».

Grata pelo esclarecimento.

Resposta:

A análise sintáctica que faz da frase está de acordo com o que se prevê na nova terminologia linguística em aplicação em Portugal. Com efeito, aí adopta-se para o predicado um comportamento que era já comum relativamente ao sujeito, ou seja, incluem-se no predicado todos os elementos, essenciais ou acessórios, que se liguem ao verbo, da mesma forma que sempre se ligaram ao sujeito os elementos associados ao nome que lhe serve de núcleo.

Quanto ao valor semântico dos modificadores, poderá ser introduzido, se isso facilitar a compreensão dos alunos. Mas importa clarificar, muito bem, que estamos a trabalhar em níveis de análise distintos. Do ponto de vista sintáctico trata-se, tão-somente, de modificadores. Se lhes atribuímos valores, ou sentidos, estamos a associar dois níveis de análise e poderemos correr o risco de os nossos alunos não interiorizarem a existência desses dois níveis distintos. Assim, proponho-lhe que, quando associar os dois tipos de classificação, o refira expressamente, dizendo, por exemplo, que se trata de um modificador com valor semântico de tempo, etc.

 

Nota da consultora (3/12/2016) –  A resposta em apreço mostra algo que será relevante no dia em que alguém se propuser estudar o impacto dos primeiros tempos da TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário), publicada pela Portaria 1488/2004, de 24 de dezembro.

Durante o ano de 2005 e grande parte do ano de 2006, até à