Pergunta:
Espero que vocês enviem suas considerações ou simplesmente uma aprovação quanto às minhas considerações sobre voz verbal. É breve.
1 – Há voz verbal em verbos intransitivos, transitivos diretos, transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos.
2 – Não há voz verbal se o verbo for de ligação, pois este indica estado, não ação; só há voz verbal, pois, se o verbo não indicar estado ou se não for impessoal.
3 – Quando os verbos forem intransitivos e transitivos indiretos (exceto, obedecer, desobedecer...), só haverá voz ativa, pois não há possibilidade de transposição para a voz passiva.
4 – Se os verbos forem depoentes, há voz verbal ativa e passiva.
Por favor, conto com sua ajuda. Abraço.
Resposta:
Segundo o Dicionário Prático para o Estudo do Português (Porto, Porto Editora, 2003), de Olívia Maria Figueiredo e Eunice Barbieri de Figueiredo, «só os verbos transitivos directos podem empregar-se na voz passiva». Isto parece implicar que todos os outros verbos só têm voz activa, incluindo os de ligação.
No entanto, é verdade que os verbos que ligam um sujeito a um predicativo não se reportam a acções mas, sim, a estados, pelo que parece uma falta de rigor atribuir-lhes a voz activa. Se assim é, então também não terá sentido falar em voz activa a propósito de um verbo intransitivo estativo como jazer ou de outro, também intransitivo, como desmaiar, que representa um evento não controlado por um agente (é estranho que se diga «X desmaiou deliberadamente»).
Pelo que posso concluir da consulta de várias gramáticas, as vozes activa e passiva são solidárias, como característica dos verbos transitivos. Dizem João Andrade Peres e Temo Móia, em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 210):
«[...] a possibilidade de construção de pares de frases activa/passiva é limitada e depende crucialmente dos verbos, já que nem todos suportam a voz passiva. Foi esta dependência relativamente aos verbos que levou a tradição gramatical greco-latina a quase sempre explicar a oposição de que estamos a ocupar-nos em termos morfológicos — falando da voz activa e da voz passiva da conjugação verbal —, mais que em termos sintácticos, isto é, em termos de estrutura frásica. Aos verbos que admitem construção passiva chamou [a tradição gramatical greco-latina] verbos transitivos (porque, na perspectiva aí perfilhada, se entendia que eles podiam «transitar da voz activa para a voz passiva)».