Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Existe o termo cyndinique em francês para designar as ciências que se dedicam ao estudo dos riscos naturais e humanos. Em Portugal apenas encontro num curso de Geografia a cadeira "Ciências Cindínicas". Não encontro nos dicionários (nem no Houaiss!) este termo. Será que posso usá-lo?

Obrigada.

Resposta:

Trata-se de um neologismo ainda não dicionarizado. Encontro-o na Internet, no seguinte contexto:

«Uma consequência deste esforço suplementar aproxima-nos do conceito até há poucos anos quase negligenciado de risco físico e, talvez pela importância e espectacularidade que aqueles factos em grande parte têm, suscitaram o nascimento de uma nova vertente científica a que veio a chamar-se a Cindínica. O esforço epistemológico deste jovem ramo da fronde geográfica veio ainda suscitar a necessidade de juntar ao estudo dos riscos físicos, o dos riscos humanos que, muitas vezes, se conjugam para ampliar as consequências.»

O próprio contexto é explicativo da palavra cindínica, que a consulente poderá usar se quiser referir-se à tal nova vertente científica.

Pergunta:

É correcto dizer "havia bateres de asas nos céus"?

Resposta:

Assim como se usa o plural haveres, «bens, posses», que é a substantivação do verbo haver, também é aceitável usar bateres no contexto em questão, porque se trata precisamente da substantivação do verbo bater. Mesmo que a questão pressuponha a expressão lexicalizada «bater de asas», não vejo aí qualquer impedimento para usar o referido plural.

Pergunta:

Qual a origem do sobrenome Nassau?

Resposta:

O apelido deriva do topónimo alemão Nassau. José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, considera que deriva da expressão «nasse Au», «campina húmida».

Ignoro como chegou este apelido ao Brasil. Por via do domínio holandês, uma vez que a casa de Orange-Nassau tem presidido aos destinos da Holanda, desde a independência no século XVI? Por causa da imigração alemã? O que sei é que Nassau é também o nome da capital das Baamas e de um condado no estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Pergunta:

Lendo mensagens enviadas a respeito de origem e significado de sobrenomes portugueses, gostaria de saber se há algo que pudessem me informar nesse sentido sobre o sobrenome Maroubo (por vezes aparentemente também soletrado "Marobo", "Marouvo" e "Marovo"). Meu bisavô, Manuel Joaquim Marobo, veio de Portugal para o Brasil no início do século XX, mas não sei precisar sua região exata de origem.

Desde já, muito obrigada.

Resposta:

Com as formas indicadas, não encontro registo do apelido em questão. No entanto, José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, acolhe a forma Marouba, que é topónimo de Ponte de Lima (Norte de Portugal), com origem no nome comum marouba, «variedade de cereja». O mesmo autor também regista o apelido Marouvas, sendo de opinião que tem origem numa alcunha formada a partir do referido nome comum.

Não se julgue, porém, que este apelido é exclusivo do Norte de Portugal. O Tratado das Alcunhas Alentejanas, de Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva (Lisboa, Edições Colibri, 2003), indica que existe como apelido a forma Marova e Marovas, na zona Montemor-o-Novo e Redondo (Alentejo).

Se Maroubo tem que ver realmente com todas estas formas, assinale-se que a etimologia proposta por Machado é contestada. A. de Almeida Fernandes, na Toponímia Portuguesa (Arouca, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999, pág. 413), escreve o seguinte:

«Não creio que as cerejas (frutos) originassem, e conservassem, um topónimo. Quero ver aí o pré-romano Merobio, séc. VI, e não o derivado "*amarouba", de "amaro" (cerejas amargas, como de facto são).»

Por outras palavras, para Fernandes, é mais provável que o topónimo Marouba, de Ponte de Lima, seja anterior à conquista romana da Península Ibérica. Isto poderia querer dizer que, em última análise, o sobrenome Maroubo é a adaptação desse nome lugar a nome de família. Mas assim também não se contradiz a hipótes...

Pergunta:

Gostaria de saber qual o significado de "Lomofonias", que aparece como título de uma rubrica da revista Única, do jornal Expresso.

Resposta:

Trata-se de um neologismo do próprio semanário, criado com base em "lomografia", que significa «fotografia feita ou hobby fotográfico feito com a máquina LOMO» (sigla em russo: Leningradskoye Optiko Mechanichesckoye Obyedinenie — «União de Óptica Mecânica de Leningrado»; na época da União Soviética, Leninegrado era o nome de Sampetersburgo). "Lomofonia" significará, deste modo, qualquer coisa como «entrevista com figuras típicas do quotidiano», como que a evocar a estética que actualmente se associa ao uso da LOMO, normalmente dedicada a temas da vida urbana.