Pergunta:
Minha dúvida é sobre o uso da palavra safadinho. Em minha família, a exemplo de meus pais e avós, chamamos nossas crianças de safadinhos quando estão em brincadeiras e travessuras. Meu pequeno de 3 anos foi repreendido em sua escola por chamar seus coleguinhas de safadinhos em suas brincadeiras. A escola nos informou por escrito que, embora ele não conheça o significado da palavra, ela é muito desagradavél como também seria caso as crianças levarem esta palavra para casa. Gostaria de saber seu parecer, pois na minha opinião o único problema com essa palavra é o contexto em que ela for utilizada, pois até onde eu sei um de seus significados é travesso, da mesma forma que meu cunhado chamava pãezinhos de "cacetinhos" após trabalhar cinco anos como motorista por grande parte do nordeste brasileiro.
Obrigado pela atenção.
Resposta:
Segundo o Dicionário Houaiss, a palavra safado, que está na base de safadinho, tem as seguintes acepções:
I. como adjectivo: «1 gasto ou inutilizado pelo uso»; «2 que perdeu nitidez; apagado, desbotado»; «3 arrastado, afastado de lugar onde corria perigo»; «4 Regionalismo: Sul do Brasil, Rio de Janeiro. muito zangado; enraivecido, danado, irado»; «5 Regionalismo: Rio de Janeiro. travesso, traquinas»
II. como adjectivo e substantivo masculino: «6 Uso: informal. que ou o que não tem vergonha de seus atos censuráveis; descarado, desavergonhado, cínico»; «7 Regionalismo: Brasil. que ou o que leva uma vida dissoluta; libertino, devasso, obsceno.»
Penso que os educadores do filho do consulente estão a considerar a acepção 7 de safado, que se mantém, talvez de forma atenuada, em safadinho. Penso também que toda a palavra tem o seu contexto: safadinho, entre familiares, ou cacetinho, no Nordeste ou em Portugal, podem ser termos inocentes; mas proferidos em Brasília, diante de um grupo de deputados, ou à frente do prefeito de São Paulo, calculo que se tornem palavras inadequadas ou sujeitas a más interpretações. Dito de outro jeito: se, numa comunidade linguística alargada, há palavras que são tabu no grupo A mas que o não são no grupo B, talvez valha a pena um membro de B ser prudente com certas expressões do seu dialecto, entre elementos de A. Isto não impede que os elementos de A saibam interessar-se pelo dialecto de B. Além disso, não sei que expectativas tem a escola do seu filho quando intervém por causa do emprego de safadinho. Mas se, no meio em que a escola se insere, a palavra em causa for considerada menos própria para ser usada entre crianças, é natural que os educa...