Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual a etimologia do nome próprio Timóteo Meneses?

Resposta:

Não há uma etimologia conjunta do nome em questão, formado pelo nome próprio Timóteo e por um outro nome, Meneses, tradicionalmente um apelido|sobrenome. Ambos os nomes estão registados no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado: 

Timóteo

Tem origem no antigo grego Timótheos, «que venera Deus/deuses», formado por timē, «honra», «respeito», e theós, «deus», e transmitido pelo latim Timŏthĕu-. Machado observa que é «nome difundido pelo calendário», em que se dedica um dia a S. Timóteo, que é «o convertido e companheiro de São Paulo, a quem dirigiu uma das suas epístolas». 

Meneses

É um apelido|sobrenome de origem castelhana, derivado do topónimo castelhano Meneses (Palência). Este ter-se-á formado de Mena, nome de um vale da província de Burgos: Meneses seria, portanto, «lugar povoado por gente vinda do vale de Mena». Note-se que, como apelido|sobrenome, as atestações medievais são sempre acompanhadas da preposição de, cuja presença «confirma a origem toponímica».

Pergunta:

Existe no Brasil a família Cassu, de origem francesa.

Em Goiás (Brasil) existe a cidade que já foi Cassu, depois Caçu, e recentemente voltou a ser Cassu.

Em Uberaba (Minas Gerais), existe o topônimo Cassu nos registros de documentos oficiais e Caçu no romance Vila dos Confins, de Mário Palmério.

Estão corretas ambas as grafias, e por quê? E a cidade em Goiás, deve ser Cassu, ou Caçu? Por quê?

Resposta:

Se diz que o nome da cidade do estado brasileiro de Goiás passou a escrever-se Cassu, então é porque tal aconteceu muito recentemente: encontro a grafia Caçu num documento em linha datado de Novembro de 2008. Além disso, é Caçu a forma que ocorre no artigo sobre o gentílico caçuense no Novo Aurélio Século XXI:

«caçuense, Adj. 2g. 1. De, ou pertencente ou relativo a Caçu (GO). S. 2 g. 2. O natural ou habitante de Caçu.»

Caçu é também a grafia da entrada referente à cidade em apreço na Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, da Editotial Verbo. E, finalmente, o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, regista Caçu, como topónimo de origem tupi existente em Goiás e Minas Gerais.

A hipótese da origem tupi de Caçu é sugerida no respectivo artigo da Wikipédia:

«Diz-se na cidade que o nome "Caçu" provém da planta [a]lcaçuz, que já foi bastante encontrada nas margens do rio que margeia a cidade, o rio Claro (Goiás). No entanto, o [a]lcaçuz é uma planta que só vive em regiões frias, então é impossível que tenha havido grandes quantidades desta planta em qualquer região do cerrado. Outra possível origem do nome é da expressão indígena "Caá-açu", que significa "Mato Grande".»

É plausível a origem tupi de Caçu, porque, no Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi, de Antônio Geraldo da Cunha, o "Índice analítico dos Étimos Tupis" (págs. 321-334) inclui os elementos ka´a, «folha, mato, erva», e a´su...

Pergunta:

Qual a forma correcta: «manga cava», ou «manga à cava»?

Obrigada.

Resposta:

Há variação regional nas designações do tipo de manga em causa. No Ciberdúvidas já comentámos a expressão «blusa caveada», usado na zona do Porto (ver extos Relacionados). Mais a sul, prefere-se a expressão «manga cavada», ao lado das expressões «manga à cava» e «manga cava», ambas registadas no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Como a subentrada de «manga à cava» remete para a de «manga cava», presumo que no referido dicionário se considere «manga cava» a expressão mais corrente, sem que se possa dizer categoricamente que é a mais correcta. De qualquer forma, comparando as duas expressões, «manga cava» é, para mim, falante criado na região de Lisboa, a que me é mais familiar.

Pergunta:

Gostaríamos, se possível, de ter a definição dos seguintes vocábulos de origem tupi-guarani: cacarape; caura; combique; munginjaia e taputiua. Desde já agradecemos.

Resposta:

Consultámos Silveira Bueno, Vocabulário Tupi-Guarani, 6.ª edição, São Paulo, Edições Éfeta, 1998, e Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Histórico das Palavras de Origem Tupi, São Paulo, Melhoramentos, 1982, mas não encontrámos os termos em questão nem conseguimos identificar os constituintes morfológicos.

Pergunta:

Em sua resposta à minha pergunta sobre o significado de lunação, [A. Tavares Louro] disse-me que a mesma significava «metade do tempo de uma revolução da Lua». Corrija-me se eu estiver errado, mas numa revolução da Lua, que é um período de tempo cuja duração é de 29,53059 dias, o satélite apresenta quatro fases, quais sejam lua nova, lua crescente (ou quarto crescente), lua cheia, lua minguante (ou quarto minguante). Assim sendo, o tempo correspondente às luas nova e crescente poderia ser considerado um semilúnio; o tempo das luas cheia e minguante, outro. Aliás, semilúnio é, segundo os seus esclarecimentos, apenas um tempo, não um aspecto ou aparência da lua durante as fases da sua revolução.

Ocorre que o dicionário Aulete Digital, em linha, diz, ao definir a palavra semilúnio, que ela significa «meia-lua». Ao determinar o sentido desta última, diz textualmente: «Aparência da lua quando se mostra em meio círculo (no quarto crescente ou minguante)». Logo, para esse léxico, semilúnio tanto pode ser a lua crescente como a minguante, sendo outrossim apenas um aspecto e não um tempo.

Isto posto, pergunto-lhe: é lícito, em português, chamarmos de semilúnio a lua crescente e também a lua minguante?

Por favor, uma resposta clara e objetiva.

Muito obrigado.

Resposta:

A palavra semilúnio vem definida como intervalo de tempo e não como aspecto nas seguintes fontes:

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira: «Semilúnio, s. m. Metade do tempo que dura uma revolução da Lua: «Escravo o semilúnio desce, enquanto/Sobre a cruz, e do céu abrindo os braços/ Os homens une com o divino amplexo», Barão de Santo-Ângelo, Colombo, Prólogo. (Do lat. semi e luna).»

Grande Dicionário Enciclopédico Verbo (1997): «semilúnio, n. m. (Astron.) Metade de uma revolução da Lua; meio mês lunar.»

Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Caldas Aulete (edição brasileira por Hamilcar de Garcia, 1958): «Semilúnio, s. m. (astr.) metade do tempo em que a lua faz a sua revolução. || F. lat. Semilunium

Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001): «semilúnio [sɨmilúnju]. s. m. (de semi- + lat. luna `lua´+suf. -io) Astr. Metade do tempo que a Lua leva a descrever a sua órbita; metade de uma revolução da Lua ou do mês lunar.» 

No entanto, é curioso verificar que a própria abonação do artigo da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira evidencia o emprego de semilúnio no sentido de aspecto ou forma de meia-lua, significado que é, de resto, o registado não só pelo