Pergunta:
A definição e caracterização das diversas unidades estratigráficas (Grupo, Formação, Membro, Camada e Escoada) é feita segundo procedimentos expressos no International Stratigraphic Guide (I.S.G.) da International Commission on Stratigraphy (UNESCO/IUGS – International Union of Geological Sciences). No caso da escolha da designação das unidades estratigráficas, é escolhido da carta topográfica sobre a qual estão a ser implantados os levantamentos geológicos, de preferência um topónimo do local onde essa unidade é caracterizada. Exemplo: «Formação Marão» (Ordovícico Inferior); «Formação Bateiras» (Câmbrico Inferior). Acontece que há quem defenda que deve ser «Formação de Marão», «Formação de Bateiras». A crítica de quem usa a preposição é que estamos a ser influenciados pela linguagem anglo-saxónica. Mas acontece que os espanhóis também não usam a preposição de (exemplos: Formación Culebra, Formación Manzanal del Barco, etc.). Os brasileiros também não usam. Quem tem razão? Pessoalmente, “soa mal” o uso do de nestes casos de nomenclatura geológica.
Agradeço a vossa atenção.
Resposta:
A estrutura das expressões terminológicas em referência foge realmente ao padrão mais frequente, pelo menos, em certo tipo de geónimos («design[ação] genérica de nomes geográficos, quer se trate de topônimos, quer de formas, relevos; voc[ábulo] us[ado] em cartografia etc.», Dicionário Houaiss). Por exemplo, diz-se «serra do Marão»; do mesmo modo, como se pretende localizar uma realidade geológica no espaço geográfico, seria de esperar que a palavra formação fosse seguida da preposição de: «formação do Marão». No entanto, é também verdade que temos expressões onomásticas sem preposição, p. ex., «rio Douro», nas quais o nome próprio funciona como aposto de especificação.
Sendo assim, em que ficamos? A minha intuição diz-me que, do ponto de vista dos padrões onomásticos do português, é melhor «formação do Marão», porque esta expressão pressupõe outra, «formação estratigráfica do Marão». Mas, se, na comunidade dos geólogos, a expressão sem preposição se generalizou e se tornou terminologia, ganhando sentido e estatuto científico próprios, considero que é de aceitar essa convenção como uso correcto.