Pergunta:
Qual das seguintes expressões está correcta: «não vou me armar em esperto», «não vou-me armar em esperto», ou «não me vou armar em esperto»?
Por último, gostaria saber qual é origem da expressão «armar em esperto».
Resposta:
Em português europeu, dirá e escreverá:
«Não me vou armar em esperto.»
Ou:
«Não vou armar-me em esperto.»1
Note-se que a pergunta pressupõe que «armar-se em esperto» forma globalmente uma expressão idiomática, quando, na verdade, o que se verifica é tratar-se de uma das possibilidades de uso da construção «armar em» (ou «armar-se em»), seguida de substantivo ou adjectico. Com efeito, não é apenas a palavra esperto que ocorre nesse contexto, como ilustram os casos de «armar(-se) em parvo», «armar(-se) em bom» ou «armar(-se) em patrão». Disto mesmo dá conta o Dicionário Houaiss, onde se regista o emprego de armar enquanto regionalismo português, se for usado como verbo transitivo indirecto, na acepção de «dar-se ares de; fingir-se de» e a seleccionar um complemento introduzido pela preposição em.2
Quanto à a origem histórica da expressão em causa, não disponho de fontes que a descrevam. Atrevo-me apenas a lembrar que, por um lado, armar, associado a um complemento nominal, significa «causar, arranjar, inventar» (p. ex., «armar uma zaragata»); por outro, conjugado pronominalmente e acompanhado de um complemento preposicional, pode ser interpretado como «prevenir-se, resguardar-se» («precisava armar-se contra o frio», idem). Parece-me aliciante interpretar a génese de armar-se em como desenvolvimento sintáctico e extensão semântica desses usos de armar, mas, antes, será preciso provar que esta construção não é arcaísmo mas, sim, criação recente do português europeu.
1 Em português brasileiro, variedade em que a expressã...