Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Estou a fazer um trabalho sobre factores de mudança linguística e gostaria que me ajudassem a definir melhor factores de mudança externa.

Obrigado.

Resposta:

A pergunta pede a abordagem a um tema cuja complexidade não cabe no âmbito do Ciberdúvidas, pelo que me limitarei a traduzir um pequeníssimo artigo do Glossary of Historical Linguistics (Edimburgo, Edinburgh University Press, 2007), de Lyle Campbell e Mauricio J. Mixco:

«[fatores externos de mudança são] fatores que ajudam a explicar as mudanças linguísticas que se encontram fora da própria estrutura linguística e do organismo humano. Compreendem os usos expressivos da língua, as avaliações sociais positivas e negativas (prestígio, estigma), os efeitos de literacia, a gramática prescritiva, as políticas de educação, os decretos políticos, o planeamento linguístico, o contacto entre línguas, entre outros aspectos.»1

Também de Lyle Campbell, pode consultar Historical Linguistics An Introduction (Cambridge, Massachussets, MIT Press, 1998). Outra obra que posso recomendar é a de Brian D. Joseph e Richard D. Janda (eds.), The Handbook of Historical Linguistics, Malden, Oxford e Carlton, Blackwell Publishing, 2003).

1 Tradução livre de: «external causal factors, external factors. Factors taht help to explain language changes that lei outside the structure of language itself and outside the human organism. They include such things as expressives uses of language, positive and negative social evaluations (prestige, stigma), the effects of litteracy, precriptive grammar, educational policies, political decree, language planning, langauge contact and so on [...].»

Pergunta:

Gostaria de saber a origem dos sobrenomes Nunes e Santos.

Resposta:

O apelido Nunes tem origem no patronímico de Nuno, de origem obscura, segundo José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa.

Sobre Santos, diz Machado (op. cit.):

«[apelido] de origem religiosa, pois foi abrev[iatura] de Todos-os-Santos. Dava-se primitivamente às crianças nascidas no dia 1-XI [...]. Creio, no entanto, que na grande maioria dos casos a vulgarização deste apel[ido]se ficou a dever aos que, ao entrarem pelo baptismo na religião cristã, tinham como padrinhos religiosos em cujo nome eclesiástico havia dos Santos. [...]»

Pergunta:

Estou com dificuldade em explicar estes dois conceitos: radical e forma de base. Poderiam ajudar-me?

Resposta:

Apresento as definições constantes do Dicionário Terminológico:

Radical

«Constituinte morfológico que contém o significado lexical e exclui os afixos flexionais. O radical pode conter afixos derivacionais. Os radicais pertencem a categorias sintácticas, sendo identificados por etiquetas como: radical adjectival, radical adverbial, radical nominal, radical verbal.

«Notas: O radical da palavra [casa] é o constituinte [cas].»

Base

«Constituinte morfológico, que inclui obrigatoriamente um radical, a partir do qual se formam novas palavras.

«Exemplos: "doc-" é a base para "adoçar"; "adoça-" é a base para "adoçante".»

Pergunta:

Eu gostaria de saber a origem do meu nome.

Obrigado.

Resposta:

Cito o artigo de José Pedro Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa:

«Deve ter começado por ser adaptação do it. Americo, ao lado do hoje mais frequente Amerigo, ou talvez, antes, do fr. meridional Aimeric, Aymeric. [...] A origem das referidas formas it[aliana] e fr[ancesa] está no germânico amala + rich [...] com latinização em Emericus. [...]»

Sobre Amalarico, que tem a mesma etimologia que Américo, Machado (op. cit.) cita o filólogo português José Joaquim Nunes:

«Segundo Nunes [...], de "proveniência germânica que quer dizer: príncipe (-rico de rich) laborioso (amala, cf. Amália, etc.) [...]".»

Pergunta:

Estava à procura da origem do nome da localidade de Azagães. Encontro, por exemplo, nas Lendas e Narrativas o termo "zagaes". Também o encontro noutros documentos. Qual o seu significado?

Resposta:

Não posso confirmar a relação proposta entre Azagães (Carregosa, Oliveira de Azeméis, Aveiro) e zagais, plural de zagal, «pastor» (a forma zagaes é grafia antiga). José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa:

«Talvez genitivo de um antr. Saggo (origem germânica?), isto é, de "Saggonis (villa)"».

Muito pouco acrescenta A. de Almeida Fernandes, em Toponímia Portuguesa: Exame a Dicionário (Arouca, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999), o qual se refere à etimologia de Machado em tom acusatório:

«Exactamente copiado do meu artigo GE-39 [Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira], p. 257. Em 1251, temos Zagaes (e a variante Zigaes por lapso), certamente -ães, o que não condiz, com o z- com o étimo que apresentei e o autor [Machado] aceitou, ou até chamou seu. Parece que temos, pois, de admitir um n. pessoal *Zag(g)a, já que a forma actual parece uma estrutura simples (tal como a forma antiga) e é prostética.»