Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Na frase «Vivo num apartamento mesmo tendo um cão e um gato», poderá a palavra mesmo ser considerada uma conjunção subordinativa concessiva?

Obrigado.

Resposta:

Não é geralmente classificado como conjunção, mas atribui-se-lhe função equivalente em contextos como o apresentado.

O Dicionário Houaiss, a propósito do valor concessivo de mesmo, diz o seguinte:

«Informalmente, mesmo adquire valor concessivo (freq. seguido de com, assim, que, como nas locuções anteriormente apresentadas); tem substituído a conjunção concessiva: mesmo estudando muito, terá de fazer aperfeiçoamento após a graduação

Pergunta:

É correto dizer «muita menos gente», ou «muito menos gente»?

Obrigado.

Resposta:

A forma correta é «muito menos», mesmo quando menos acompanha um substantivo. Na língua falada, é possível ouvir "muita" em lugar de muito, sobretudo quando o advérbio modifica adjetivos: «uma praia "muita" grande». É um uso que a norma não aceita.

Pergunta:

Gostaria de saber se existe alguma regra específica para citações bíblicas no meio de um texto. Ex.: «Quantos de nós nos revemos neste episódio: "E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?" (Mateus 14:31)», ou «Quantos de nós nos revemos neste episódio: "E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?" , Mateus 14:31». Coloco o livro, capítulo e versículo entre parênteses, ou não? Grato pela vossa ajuda.

Resposta:

Não conheço regras estritas sobre o uso de parênteses no caso que apresenta. Os parênteses podem usar-se ou não – o que importa é manter o mesmo critério ao longo de um trabalho (artigo ou monografia).

Por exemplo, verifico que na obra de Bento XVI Jesus de Nazaré (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2007) se usam parênteses com as referências do livro, do capítulo e do(s) versículo(s) donde a citação provém; p. ex. (idem, p. 222; Mt = «Evangelho de São Mateus», 9 = «capítulo 9», 38= «versículo 38»):

«É daqui que se deve partir para compreender a palavra de Jesus: "Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe" (Mt 9, 38).»

Mas não encontro fonte na qual se considere condenável apresentar a citação assim:

«É daqui que se deve partir para compreender a palavra de Jesus: "Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe" Mt 9, 38.»

Repito: deve-se sempre definir um critério e aplicá-lo com coerência a todas as citações feitas ao longo do mesmo trabalho.

Cf. As línguas da Bíblia

Pergunta:

Gostaria de saber, se possível for, o significado do nome próprio personativo Antóvila ou, ao menos, uma aproximação possível. Confesso-lhes que, em minhas pesquisas, não tenho obtido muito sucesso.

Resposta:

Nem nós conseguimos apurar nada de conclusivo sobre o nome próprio em questão.

O nome é de facto usado no Brasil, mas parece completamente desconhecido nos outros países de língua portuguesa. Somos levados a crer que o nome tenha surgido por amálgama – talvez de António e de parte de um nome não identificável acabado em -ila (Átila?).

Pergunta:

Podemos separar biblioteca assim?

Bibli-

oteca.

E ansioso assim?

Ansi-

oso.

Resposta:

Teoricamente pode-se, desde que a sequência que passa à linha seguinte não se resuma a uma vogal; p. ex., não se deve separar água assim:

á-

gua.

Nem se deve separar história desta maneira:

históri-

a.

No caso de biblioteca e ansioso parecem possíveis:

bibli-

oteca,

ansi-

oso.

No entanto, dado que foneticamente os encontros vocálicos das sequências -blio- de biblioteca e -sio- de ansioso podem ser pronunciados como ditongos crescentes – respetivamente, iu (ou io na varidedade brasileira) e io –, é de recomendar que não se separem essas vogais.