Pergunta:
Estou a concluir o meu doutoramento em Turismo, e a bibliografia mais relevante neste domínio é na língua inglesa. A minha tese é sobre o comportamento espacial "intradestino" (que traduzi assim do vocábulo inglês intra-destination) do turista urbano na sua visita multiatração (que traduzi de multi-attraction, termo inglês recente, utilizado pela primeira vez no campo científico numa pesquisa de 2008). Assim, a minha questão é: "intradestino" e "multiatração" são aceitáveis, ou estrangeirismos inaceitáveis? Os dicionários já registam termos como multiuso ou intranet. Claro que posso dizer, em vez de «visita multiatração», «visita dirigida a múltiplas atrações», mas quando quero expressar que o comportamento espacial do turista urbano tem uma dimensão "multiatração", como fazê-lo? Não gosto de usar estrangeirismos desnecessários, mas quando se trata de vocabulário científico, em que o rigor concetual é muito exigente, a nossa língua pode/deve servir-nos ou impor-nos limitações? Pode ter-se uma perspectiva mais evolutiva da língua, ou é um erro crasso utilizar aqueles vocábulos que repito centenas de vezes ao longo da minha tese?
Muito obrigada.
Resposta:
Nas áreas de especialidade, há grande margem para o emprego de neologismos que os dicionários gerais não registam. Sendo assim, desde que a consulente fundamente as suas opções terminológicas, não nos parece mal que adote os termos que refere, uma vez que eles parecem concetualmente adequados. Mesmo que as formas intradestino e multiatração sejam decalques de termos ingleses, e mesmo que multiatração seja usado como adjetivo (à semelhança de multiúso, como em «pavilhão multiúso»), se não houver tradição terminológica alternativa na sua área de especialidade, a solução mais acessível será mesmo a de usar essas palavras.