Pergunta:
Dado que, em princípio, só os verbos transitivos directos podem ser usados na voz passiva, e que, segundo creio, algumas raras excepções são historicamente explicadas (a do verbo obedecer, por exemplo: cf. J. A. Peres e T. Móia, Áreas Críticas da Língua Portuguesa, p. 209), gostaria de saber como se justifica uma frase como «A Ana foi a candidata mais votada». Pode dizer-se que se votou uma lei (e, portanto, que essa lei foi votada), mas não se diz que se votou um candidato...
Muito obrigado.
Resposta:
O uso de votado está correto.
Tem origem no particípio passado de votar e a palavra está registada dicionaristicamente como adjetivo, que, entre outras aceções, recobre a de «(aquilo) que foi decidido por votação» (Dicionário Houaiss; ver também dicionário da Porto Editora). É mais um exemplo de como, na língua portuguesa, os particípios passados de verbos com regência, como é o caso de votar («votaram na mesma candidata»), podem converter-se em adjetivos que, apesar de tudo, apresentam grande semelhança com construções passivas. Contudo, é de assinalar que o verbo votar admite igualmente a construção transitiva, selecionando um complemento direto e no sentido de «submeter a votação» (cf. Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Texto Editora, 2007): «Os deputados votaram a proposta.» Este uso poderá também legitimar o particípio passado votado com valor passivo em frases como «a proposta foi votada».