Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Penso que é mais correcto escrever "a diabetes" do que "os diabetes", mas que são aceitáveis as duas formas.

No caso da segunda, está correcto dizer "os diabetes são uma doença..."?

Resposta:

O Dicionário Médico de L. Manuila, A. Manuila, P. Lewalle e M. Nicoulin, na sua edição portuguesa, adaptada e revista por João Alves Falcato, regista o substantivo feminino diabetes (francês “diabète”; inglês “diabetes”) e diz o seguinte: «Nome dado a diversas doenças caracterizadas pela emissão de urina anormalmente abundante e acompanhada de uma sensação de sede intensa. Empregado isoladamente, o termo diabetes significa a diabetes açucarada (diabetes mellitus).» Quanto a diabetes açucarada, o mesmo dicionário diz que se trata de «Afecção crónica caracterizada por poliúria com polidipsia e glicosúria persistente e hiperglicemia (...). Deve-se a uma insuficiência de produção de insulina (hormona hipoglicemiante) pelo pâncreas. Na ausência de um tratamento regular, pode complicar-se de acidose grave com coma e de diversas lesões degenerativas graves (acidentes vasculares, cerebrais ou cardíacos, retinopatia, lesões renais, perturbações nervosas). A diabetes juvenil constitui uma forma particularmente grave e obriga a tratamento com insulina (insulinodependente). A diabetes gorda do adulto obeso é mais fácil de tratar (...).» Por sua vez, o Dicionário da Porto Editora diz que se trata de substantivo feminino de dois números. E a Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (Editorial Verbo) também opta pelo feminino: a diabetes.

Já o Dicionário Eletrônico Houaiss (brasileiro) considera o termo diabetes um «substantivo de dois gêneros e dois números». E observa que diabete é «forma não preferível e menos usada». Sobre a proveniência, este dicionário diz o seguinte: «deve-se a infl. do fr. ‘diabetès’ (1762), ‘diabétès’ (...

Pergunta:

Qual a origem das palavras bife e pudim?

Resposta:

Segundo o Dicionário Etimológico de José Pedro Machado, bife vem «do inglês 'beef', "vaca, carne de vaca"».

O mesmo dicionário diz que pudim (ou pudingue) vem «do inglês 'pudding'».

Pergunta:

O que significa a palavra repto? E o verbo rebater?

Resposta:

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa 2003 da Porto Editora, repto significa: «reptação; desafio; emprazamento». O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa dá-nos a seguinte definição: «Acção de desafiar, de provocar; acto ou efeito de reptar». E considera repto sinónimo de «desafio, provocação».

Por outro lado, sobre o verbo rebater o dicionário da Porto Editora diz o seguinte: «bater novamente; voltar a dactilografar ou digitar (texto); aparar; defender-se de (golpe); repelir; fazer fugir; deitar sobre uma superfície horizontal (objecto que está na vertical); contestar; refutar; desmentir; debelar; destruir; reprimir; refrear; censurar; trocar com desconto; descontar». Porém, este verbo é utilizado, na maioria das vezes, na acepção de contestar, refutar.

Pergunta:

Gostaria de saber se em português correcto é aceite a palavra 'têmpora' (tanto no dicionário da Porto Editora como no Universal da Língua Portuguesa figura apenas a palavra 'têmporas'), como, por ex., na seguinte frase "ele fez-lhe uma festa na têmpora".

Seria mais correcto "ele fez-lhe uma festa nas têmporas?"

Muito obrigada.

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa regista têmpora, embora diga que este termo é «usualmente no plural». Têmpora é da área da Anatomia, tratando-se de «Cada uma das regiões laterais da cabeça, entre o canto do olho e o cimo da orelha». O mesmo dicionário regista têmporas, como termo da área da Liturgia, e neste âmbito define-o assim: «Os três dias de jejum estabelecidos pela Igreja Católica no início de cada estação do ano».

O Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves também acolhe têmpora e têmporas.

Salvo melhor opinião, parece-me que pode dizer, por exemplo, «tenho uma ligeira dor na minha têmpora direita». Já, no que diz respeito à área da Liturgia, penso que o termo só pode ser usado no plural.

Pergunta:

Qual o termo mais correto: intravenoso (dois radicais de origem latina) ou endovenoso (radical grego com latino)?

Resposta:

O Aurélio (brasileiro) considera intravenoso preferível a endovenoso. Os dicionários portugueses consultados não fazem qualquer distinção entre as duas formas.