Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Se agora se escreve tricô e não tricot, como se justifica o verbo tricotar?

Resposta:

Tricô é o aportuguesamento da palavra francesa tricot. Tricotar, por sua vez, vem directamente do «fr[ancês] tricoter», ou seja, tricotar é anterior a tricô e tornou-se forma usual na língua portuguesa.

Tricô é «tecido de malhas entrelaçadas, feito à mão, com agulhas especiais ou à máquina», e tricotar significa «confeccionar (peça do vestuário) em trabalho de tricô» [cf. Dicionário Eletrônico Houaiss].

Pergunta:

Como escrever corretamente esta palavra que nem deve constar nos nossos dicionários da língua portuguesa? Filé mion? Filé mingnon?

Resposta:

O Dicionário Eletrônico Houaiss regista o termo filé-mignon, vindo do sintagma francês «filet mignon (1833) "peça de carne muito tenra que se situa na ponta da região lombar de uma rês", comp[osto] do fr[ancês] filet (c1180) "o que tem o aspecto de um fio esticado, extremamente fino" e mignon (sXV) "delicado, gentil, agradável, tenro, jovem, novo, pequeno", voc[ábulo] us[ado] em ac[e]p[ção] afetiva valorativa». Trata-se de termo da área da alimentação e é «peça de carne extraída da ponta do lombo da rês» ou, em culinária, «essa peça cortada em fatias mais ou menos finas e preparada ger[almente] com óleo, cebolas e/ou outros temperos; filé». Ainda designa, em uso informal, «o melhor quinhão, o que é da melhor qualidade, o fino, a nata; o que tem os maiores atrativos ou que oferece as maiores compensações; filé».

O plural de filé-mignon é filés-mignons.

Observe-se, no entanto, que a forma filé-mignon é graficamente incoerente, porque ao aportuguesamento filé se segue a forma francesa mignon. Seria de esperar que a adaptação ao português fosse filé-minhom, que é uma maneira adequada de aportuguesar a expressão francesa.

Pergunta:

O que significa e qual a origem da palavra sofisticado?

Resposta:

A palavra sofisticado é o particípio passado do verbo sofisticar. Significa «que se sofisticou; enganado com sofismas; que foi alterado fraudulentamente; falsificado, adulterado». Quer dizer ainda «que tem sutileza ou utilidade sofística; que não é natural; postiço, artificial, afetado; falsamente intelectual ou rebuscado». O Dicionário Eletrônico Houaiss diz que é «voc[ábulo consid[erado] gal[icismo] pelos puristas, que sugeriram em seu lugar: requintado, fino, refinado». O verbo sofisticar vem do «fr[ancês] sophistiquer (1372-74) "enganar com sofismas", empr. ao lat. medv. sophisticare "enganar, falsificar, corromper"».

Pergunta:

O que quer dizer diuturno?

 

Resposta:

O adjectivo diuturno (do lat[im] diuturnu-) quer dizer «de longa duração; vivaz» [cf. Dicionário da Língua Portuguesa 2003, da Porto Editora].

O Dicionário Eletrônico Houaiss diz que significa «que se prolonga, prorroga ou protela no tempo; prolongado, longo» e dá como exemplos «ação d[iuturna» e «preocupação d[iuturna]». Diz também que quer dizer «que subsiste por muito tempo; longo, demorado», como em «um mal d[iuturno], e «longamente considerado; refletido, amadurecido», a exemplo de «resolução d[iuturna]».

Pergunta:

Qual é a diferença entre marido e esposo? É verdade que esposo é uma palavra que só pode ser usada no dia do casamento?

Resposta:

O Dicionário Eletrônico Houaiss regista os dois termos (marido e esposo) como sinónimos. Assim, diz que marido é «homem unido a uma mulher pelo casamento; esposo», e esposo, por sua vez, trata-se de «homem casado, em relação à sua mulher; marido». Embora a palavra esposo seja menos usada que marido, nada impede a sua utilização em qualquer dia após o casamento. Por vezes, até acontece, pelo menos em Portugal, que, quando encontramos uma mulher casada com quem fazemos alguma cerimónia, a pergunta que lhe dirigimos é: «Como vai o esposo?» Contudo, o vocábulo mais usual é marido.