Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber qual é origem da palavra disquete. É que em alguns dicionários cita-se origem francesa, mas nas páginas do Portal da Língua Portuguesa (MorDebe) cita-se origem inglesa. Também a grafia original é diferente ("diskette" x "disquette"). Escrevo um trabalho deste tema, portanto, isso chama a minha atenção.

Obrigado.

Resposta:

A explicação é simples: a palavra disquete vem do «fr[ancês] disquette (a1975), este do ing[lês] n[orte]-am[ericano] diskette (1973) "disco flexível"». Por outras palavras, o termo disquete vem do inglês norte-americano diskette, mas entrou na língua portuguesa através do francês disquette.

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

Eu já algum tempo tenho dúvidas nestas duas palavras, autismo e autista; sei que os seus significados são diferentes. Fui consultar o Dicionário Universal da Língua Portuguesa e fiquei a saber muito pouco sobre elas. Agora eu peço a vossa ajuda para ver se me podem dar mais alguma resposta sobre esta minha dúvida.

Resposta:

O autismo (do gr[ego] autós «em si próprio» + -ismo) é «atitude psicopatológica caracterizada pela tendência a desinteressar-se do mundo exterior e ter, apenas, uma intensa interiorização». Trata-se, portanto, de uma doença da área da psiquiatria. O autista [substantivo (nome)] é «pessoa que manifesta autismo» ou (adjectivo) «diz-se do conceito que certas pessoas têm de si próprias e que as afasta da realidade»; assim, como nome, o autista é aquele que sofre de uma doença: o autismo; mas, como adjectivo (por exemplo, «com aquele discurso, o homem é autista»), trata-se de uma pessoa cujo conceito de si própria a afasta da realidade. [Fonte: Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa, edição da Porto Editora]

A Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, da Editorial Verbo, diz que autismo é «Termo criado por E. Bleuler para designar a evasão da realidade, acompanhada de um predomínio relativo ou absoluto da vida interior. Trata-se de uma perspectiva mais estrutural do que descritiva, que, aplicada à esquizofrenia, alterou a sua compreensão, dados evolutivos e tratamento. O grau de autismo depende da gravidade da esquizofrenia e enquanto nos casos leves a perda do contacto vital com a realidade se refere somente às facetas afectiva e lógica, nos casos avançados não há relação alguma ...

Pergunta:

O que é "desmóçar"? Eu acho que não existe e que é uma invenção do autor Mia Couto. O que é que pensam?

Resposta:

Não é uma invenção de Mia Couto, mas poderia ser, dada a enorme criatividade deste grande escritor da língua portuguesa.

O Dicionário Eletrônico Houaiss regista o verbo de uso informal desmoçar, embora nos remeta para desemoçar (também informal); significa «tirar a condição de virgem de; deflorar, desmoçar, desvirginar», a exemplo de «desemoçou a menina e não casou».

O dicionário prefere desemoçar, Mia Couto opta por desmoçar, e, se me é permitida a opinião, estou de acordo com o escritor.

Pergunta:

Qual é a diferença entre «estar incomodado» e «estar doente»?

Resposta:

Doente é todo aquele que sofre de um problema de saúde (diabetes, asma, pneumonia, gripe, cancro, sida, etc.), enquanto incomodado, neste contexto, quer dizer «ligeiramente doente; adoentado, indisposto». Assim, «estar doente» significa «estar com diabetes», «estar com asma», etc.; «estar incomodado» quer dizer «estar ligeiramente doente», «estar indisposto», etc.

Em outros contextos, a palavra incomodado também significa «que se incomodou; que sente incômodo»; «importunado (com súplicas, pedidos etc.); molestado»; «dominado por aborrecimento, enfado, irritação, má disposição; aborrecido, desgostoso, irritado»; e (uso informal) «que se encontra em período menstrual; menstruado».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

Em medicina é frequente a utilização destes três termos de forma indiscriminada: imobilismo, imobilidade, imobilização.

Muito agradeço o vosso esclarecimento.

Grato.

Resposta:

O Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa, edição da Porto Editora, regista (dos três) apenas o termo imobilização, definindo-o como «método de tratamento de certas doenças das articulações ou de fracturas ósseas para facilitar a cura das lesões». Da mesma forma, o Dicionário Médico, de L. Manuila, A. Manuila e outros (Climepsi Editores), acolhe só imobilização («acção de imobilizar um membro ou qualquer outra parte móvel do organismo, a fim de facilitar a cura»).

Os vocábulos imobilismo e imobilidade aparecem registados em outros dicionários, mas com acepções que não têm que ver com a área da medicina.