Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber se as seguintes palavras levam ou não acento, visto que encontro iguais referências às mesmas com e sem acento:

"hiperlactatemia", "hipertrigliceridemia", "hiperglicemia".

Existem outras com o mesmo sufixo onde se verifica a mesma ambivalência nos resultados.

Obrigado.

Resposta:

Hiperglicemia («excesso de glicose no sangue, característico da diabetes») e hipertrigliceridemia («aumento anormal da taxa de triglicerídeos no sangue») encontram-se registados no Dicionário Eletrônico Houaiss com esta grafia (sem acento). Veja, por favor, a resposta anterior A pronúncia de síndroma/e, glicemia, anemia, etc..

Quanto à palavra  "hiperlactatemia", não a encontrei nos dicionários consultados, mas o Dicionário Médico de L. Manuila, A. Manuila e outros (Climepsi Editores) regista hiperlactacidemia, igualmente sem acento.

Em conclusão, estas palavras não levam acento gráfico.

Pergunta:

Qual a etimologia da palavra hino? Encontrei um documento datado de 1949, em que hino estava escrito sem h ("ino"). É erro ortográfico, ou pode ser assim?

Resposta:

A palavra hino vem do «gr[ego] húmnos,ou, "canto"; (...) ; f[orma] hist[órica] sXIII ino». Como vê, "ino" era forma do século XIII, mas em 1949 já era erro ortográfico.

Hino é «poema ou cântico composto para glorificar deuses ou heróis»; «na liturgia cristã, cântico de louvor a Deus»; «qualquer dos cânticos do ofício divino, divididos em estrofes, com ou sem rima»; «canto ou poema lírico que é expressão de alegria, de entusiasmo, ao celebrar alguém ou algo»; «canto solene em honra da pátria e/ou de seus defensores»; e, em sentido figurado, «louvor, elogio».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

Em linguagem popular é costume dizer, por exemplo, «bacalhau dessado». O verbo "dessar" existe, ou trata-se de uma deturpação de dessalgar?

Resposta:

Dessar, que significa «tirar o sal a (alguma coisa), pondo-a de molho; demolhar; dessalgar», deriva «de dessalar». O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, regista dessar e acolhe, também, dessalar, embora, em relação a este verbo, nos remeta para dessalgar («tirar o sal ou sabor salgado a» e, em sentido figurado, «tornar desengraçado»).

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra complot já foi aportuguesada para "complô". Se não, que alternativas há no português para evitar o uso deste francesismo?

Obrigado!

Resposta:

Com efeito, o Dicionário Eletrônico Houaiss regista complô («empr[és]t[imo] [do]  fr[ancês] complot (fim do sXII) "multidão compacta" (1180-1190) "comum acordo", (1213) "conjuração", de orig[em] incerta»); contudo, depois acrescenta que se trata de «voc[ábulo] consid[erado] gal[icismo] pelos puristas, que sugeriram em seu lugar: conspiração, conjura, conjuração, trama».

Complô significa «trama secreta concertada entre diversos indivíduos contra uma autoridade, uma personagem pública, uma instituição etc.» ou «qualquer projeto concertado secretamente entre duas ou mais pessoas».

Pergunta:

Em português, é "exfoliante", ou "esfoliante"?

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, regista exfoliante (e exfoliar), mas remete-nos para esfoliante (e esfoliar); considera-os, portanto, os termos preferíveis. Esfoliante (adjectivo) significa «que causa esfoliação»; e, como nome (substantivo), é «produto que permite eliminar as células mortas acumuladas nas camadas superficiais da epiderme».

Igualmente, o Dicionário Eletrônico Houaiss (brasileiro) acolhe a palavra exfoliante, mas remete-nos para esfoliante, palavra que, além de significar «que ou o que produz esfoliação», vem do «lat[im] exfolians,antis, part[icípio] pres[ente] do v[erbo] lat[ino] exfolĭo,as,āvi,ātum,āre, "tirar as folhas, esfolhar"».

Assim, tanto em Portugal como no Brasil, é preferível escrever esfoliante.