Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Tenho uma dúvida quanto à forma correcta da expressão para nomear esta forma de tendinite do punho: correctamente, escreve-se «De Quervain», ou «Du Quervain»? Ou ambas estão correctas?

Obrigado.

Resposta:

Chama-se «doença de Quervain», tratando-se de «afecção caracterizada pelo espessamento fibroso da bainha dos tendões longo abdutor e curto extensor do polegar, à sua passagem sobre a apófise estiloideia radial, que se traduz clinicamente por tumefacção ao nível desta apófise e dores exacerbadas aos movimentos. (Quervain, Fritz de, cirurgião suíço, 1868-1940)».

[Fonte: Dicionário Médico de L. Manuila, A. Manuila e outros, edição da Climepsi Editores]

Pergunta:

Quando nos referimos a colocar o bacalhau de molho em água doce para retirar o sal, deveremos dizer «vou remolhar o bacalhau», ou «vou demolhar o bacalhau»?

Obrigado e bom Natal.

Resposta:

Demolhar significa «colocar de molho; mergulhar por um longo tempo em água», enquanto remolhar quer dizer «molhar novamente» ou «molhar bem» [in Dicionário Eletrônico Houaiss].

O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, apresenta-nos «pôr a dessalgar» como uma das acepções de remolhar, o que significa que este verbo pode ser utilizado com esse sentido. Pode... mas geralmente não é.

Assim, em Portugal, usa-se a expressão «demolhar o bacalhau», mas, se alguém disser «remolhar o bacalhau», também está correcto, embora não seja usual.

Pergunta:

Qual o significado e origem da expressão «de rebimba o malho»?

Resposta:

A expressão «de rebimba o malho» significa «à bruta; com toda a força; excelente». Regra geral, a origem destas expressões é desconhecida ou «obscura».

[Fonte: Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora]

Pergunta:

«Um professor habituado a centrar em si próprio o processo de ensino/aprendizagem...»

Devo dizer centrar, ou centralizar?

Obrigada.

Resposta:

No contexto em causa, deve dizer centralizar, apesar de, em algumas situações, os verbos centrar e centralizar serem sinónimos. Do mesmo modo, também se diz que «Fulano centraliza a administração da empresa» ou que «Sicrano centraliza a condução dos negócios da família»; nestas situações, com o sentido de concentrar o poder nas suas mãos. Por outro lado, já se diz «centrou [colocou no centro] a bola», «centrou o quadro que tinha na sala», etc.

Assim, centralizar tem essencialmente o sentido de concentrar (especialmente o poder, seja ele de que natureza for).

Pergunta:

A frase «Os homens são uns parasitas da sociedade» está correta? Meu professor disse que, ao invés de colocar «parasitas», era para ser «parasitos», porque parasita é o inseto.

Por gentileza, poderia me tirar essa dúvida?

Agradeço a atenção.

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, embora registe parasito, remete-nos para o nome (substantivo) masculino ou adjectivo uniforme parasita, originário «do gr[ego] parásitos, "comensal", pelo lat[im] parasītu-, "id[em]"». Com efeito, parasita, como vocábulo da biologia, é «animal ou planta que, associado com outro ser vivo, o prejudica de qualquer modo», mas, em sentido figurado e pejorativo, também quer dizer «pessoa que vive à custa de outra»; significa, ainda, como adjectivo, «que vive à custa de outrem» ou «inútil; supérfluo».

O Dicionário Eletrônico Houaiss também acolhe os dois termos e considera, em relação a parasita (uso pejorativo), que «diz-se de ou indivíduo que vive à custa alheia por pura exploração ou preguiça».

Assim, a frase está correcta, dado que, nesse contexto, o sentido pretendido é o pejorativo.