Pergunta:
Existe alguma diferença semântica entre os verbos viver e morar no sentido de residir em determinado lugar ou região?
Considere-se, a título de exemplo, a seguinte frase: «Nos primeiros anos da década de 1990, vivia/morava em Jerusalém por períodos de vários meses.»
Neste caso, será indiferente o emprego de qualquer um dos verbos?
Resposta:
Os verbos viver e morar podem ser considerados sinónimos em alguns contextos nos quais partilham a componente semântica de lugar, o que significa que se constroem com um complemento que tenha um valor locativo, como acontece em (1) e (2):
(1) «Ele vivia em Jerusalém.»
(2) «Ele morava em Jerusalém.»
O verbo morar tem uma significação mais restrita que poderá ser equivalente a significados como «ter residência permanente em determinado lugar»1 ou «ocupar uma casa, espaço habitacional, fazendo dele o seu lar»1. O verbo viver, por sua vez, poderá ser usado com um valor equivalente a morar, com o sentido mais lato de «habitar, alguém, em determinado local, região ou país».
Noutros sentidos, o verbo viver já não será equivalente a morar, quando usado com valores como os indicados abaixo, entre outros possíveis:
(3) «Deve comer para viver.» (apresentar, um ser vivo, as funções vitais que lhe são caraterísticas1)
(4) «Este animal vive, em média, dez anos.» (ter, um ser vivo, determinada duração de vida1)
(5) «Ele vive da agricultura.» (ter, alguém, a sua forma de subsistência em determinada atividade1)
Deste modo, na frase apresentada, os verbos morar e viver podem ser usados como sinónimos com o sentido de «habitar num determinado local».
Disponha sempre!
1. Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (em linha).