Bárbara Nadais Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Bárbara Nadais Gama
Bárbara Nadais Gama
16K

Licenciada em Ensino de Português Língua Estrangeira, mestre em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira pela Universidade do Porto e doutoranda em Didática de Línguas. Foi professora de Português no curso de Direito da Universidade Nacional Timor Lorosae- UNTL, no ano letivo de 2011-2012.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Existe a palavra vagilidade em português? Está relacionada com a capacidade de movimento das plantas aquáticas; em inglês existem os termos vagile e vagility, cuja tradução não encontrei.

Resposta:

Não encontrei nos dicionários consultados em linha Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e Dicionário Eletrônico Houaiss o termo vagilidade que a consulente apresenta. Contudo, com o mesmo significado dos termos em inglês vagile e vagility, o Dicionário Houaiss regista a palavra vágil: «livre para se movimentar. Ex.: organismo vágil». Deste adjetivo, é legítimo formar vagilidade («a vagilidade do organismo»), que pode atestar-se em documentos relacionados com biologia e ciências do ambiente, provenientes de páginas brasileiras:

(1) «Vagilidade: Vagilidade é a capacidade de ser vágil, quer dizer, móvel» (Cerqueira, R. et al. 2003 Glossário in: Rambaldi, D.M. & Oliveira, D.A.S. orgs. Fragmentação de ecossistemas: causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de políticas públicas. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. págs. 485-508).

Poderia pensar-se que o termo se usa apenas no português do Brasil, mas ele está também a ser empregado em trabalhos académicos realizados em Portugal:

(2) «Esta profusão de taxa torna-se ainda mais difícil de interpretar à luz da área de distribuição reduzida e da pretensa vagilidade associada a um organismo com a capacidade de voo como uma borboleta» (Eduardo Manuel G. B. V. Marabuto, Biologia e Genética da Conservação da Branca-Portuguesa, Euchloe tagis (Hübner, 1804), em Portugal, Universidade de Lisboa, pág. 21).

Pergunta:

Existe a palavra concordanceiro?

Resposta:

Não encontrei atestada a palavra concordanceiro nos dicionários que consultei (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e Dicionário Eletrônico Houaiss), mas o termo ocorre em textos especializados, de linguistas brasileiros: «estes corpora são geridos por hipertextos e por outros softwares: um concordanceiro monolíngue, um concordanceiro bilíngue, um alinhador de corpora paralelos bilíngue, plurilíngues ou comparáveis» (Lídia Almeida Barros e Apareceida Negri Isquerdo, O Léxico em Foco, São Paulo, Cultura Académica Editora, 2010, p. 19). Contudo, a consulente poderá utilizar o termo programa de concordâncias, com o mesmo significado, isto é, «programa utilizado na análise de textos literários para localizar as particularidades do vocabulário de um escritor, as suas construções e características do seu estilo» e «programa utilizado na análise de qualquer texto, para identificar as particularidades de vocábulos e construções». Note-se ainda que, em linguística, em especial em lexicologia, se usa concordância também para designar qualquer «índice alfabético de vocábulos apresentados nos contextos em que aparecem (num trecho, num autor, numa época etc.) [Oferece a possibilidade do estudo comparativo das palavras e dos diversos empregos do mesmo vocábulo]» (Dicionário Houaiss).

Pergunta:

A palavra estaleiro é uma palavra primitiva, ou deriva de outra? Caso seja derivada, qual a palavra primitiva?

Resposta:

Aparentemente, dir-se-ia que a palavra estaleiro é uma palavra complexa, derivada do radical de estalar, ao qual se teria associado o sufixo -eiro. Contudo, a contemporânea falta de relação semântica entre estaleiro e estalar conjuga-se com informação que leva a supor que a análise mais adequada é histórica. Com efeito, atente-se no que diz José Pedro Machado no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa:

«Do radical de estalar, como o cast. astillero e o fr. atelier, pelo ant. fr. asteliers (teria havido influência de estalar, "monte de madeiras", depois: "local onde trabalhavam carpinteiros, pedreiros" e, enfim, "estaleiro", nos fins do sec. XVI, segundo Bloch-Wartburg, s. v. atelier

Também o Dicionário Eletrônico Houaiss sublinha a importância da perspetiva histórica para a compreensão da forma de estaleiro: «francês antigo astelier (início do s. XIV), "pilha de madeira", daí "carpintaria", depois "oficina em geral", derivado de astelle (atual atelle), do latim astŭla ou assŭla, "pedaço de madeira"; formas históricas: s. XIV estaleiro, s. XIV estalleyro, s. XIV estaleyro.»

Pergunta:

Diz-se para os homens hospedeira, ou "hospedeiro" na aviação?

Obrigado.

Resposta:

Segundo o sítio oficial da companhia aérea Sata, o termo que se emprega para definirmos um tripulante de cabina, devidamente qualificado, que colabora diretamente com o chefe de cabina na assistência aos passageiros e tripulação técnica, é comissário(a) ou assistente de bordo1.

De acordo com a bibliografia consultada (Dicionário Eletrônico Houaiss e Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), o termo que o consulente refere no feminino, hospedeira2, poderá adquirir o mesmo significado:

«Empregada que vela pelo conforto dos passageiros a bordo dos aviões comerciais (ex.: hospedeira de bordo, hospedeira do ar). = ASSISTENTE DE BORDO.»

Já no masculino o termo hospedeiro adquire um significado diferente (Dicionário Priberam): «1. pessoa que hospeda; dono de hospedaria. 2. Relativo a hóspede. 3. Que hospeda. 4. Obsequiador; afável; que recebe bem.»

1 Também se usa a expressão «tripulante de cabine».

2 No Brasil aeromoça, informalmente, mas nos meios técnicos aeronáuticos usa-se «comissária de bordo» (Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Por favor, me esclareçam porque é que não podemos dizer «porquê que»? Por exemplo: «Porquê que estás a estudar?»

Agradecimentos antecipados.

Resposta:

No âmbito da norma-padrão, o vocábulo porquê não se pode empregar no início de uma interrogativa finita. Não é aceitável dizer-se: «porquê estás a estudar», «porquê não vens comigo». Nestes exemplos, com o verbo expresso por uma forma finita, ocorre porque, e não porquê:

a) «Porque é que estás a estudar?»

A expressão «é que» põe em foco, enfatiza determinada palavra ou expressão numa frase: «a cor é que não agradou muito» (Dicionário Eletrônico Houaiss, s.v. ser).

Contudo, o vocábulo porquê pode empregar-se no início de uma frase com verbo expresso, quando esse verbo está no infinitivo:

b) «Porquê acreditar em tudo isso?»

c) «Porquê acreditarmos nós em tudo isso?»

Como advérbio também se emprega porquê no princípio de frase, quando se omite o verbo:

d) «Porquê tanta maldade no mundo?»

e) «Porquê tudo isto?»