Pergunta:
Queria saber a regra que se aplica se, na passagem do discurso directo para indirecto, o verbo estiver no pretérito imperfeito do modo indicativo.
Obrigado pela vossa atenção!
Resposta:
Na chamada «transposição do discurso directo para o indirecto», estão implicados vários factores. No que toca particularmente aos casos em que o imperfeito está presente num enunciado em discurso directo, há a considerar (pelo menos):
(i) o tipo de predicado envolvido;
(ii) o ponto de referência temporal válido na frase em discurso indirecto;
(iii) a existência ou não de sequencialização de acções/situações.
Se o enunciado realizar um predicado de indivíduo (em que as propriedades atribuídas na predicação abrangem toda a existência do indivíduo), o imperfeito mantém-se no discurso indirecto:
«O meu marido era inteligente.»
«A Maria disse que o marido era inteligente.»
«?A Maria disse que o marido tinha sido inteligente.»
Se, com predicados de fase (em que as propriedades atribuídas na predicação são propriedades transitórias), o tempo de elocução do discurso reportado (ou seja, o tempo do verbo dicendi, por exemplo, dizer, declara, informar, esclarecer, etc.) é colocado em relação com o agora em que «eu digo que a Maria disse», o imperfeito mantém-se:
«O Zé Tinoco era do Benfica.»
«A Maria disse ontem que o Zé Tinoco era do Benfica.»
Se, com predicados de fase, o ponto de referência temporal do verbo dicendi não tem relação com o tempo da enunciação e havendo sequencialização de acções/situações, ocorre o pretérito mais-que-perfeito:
«Naquela noite fatídica, a Maria disse à polícia que o Zé Tinoco tinha sido do Benfica, mas que, entretanto, tinha mudado para a Académica.»