Pergunta:
Gostaria de saber o significado, mais aprofundado, de agramaticalidade e erro.
O dicionário da Porto Editora [em linha] define o termo agramatical, «que não está de acordo com os princípios e regras de uma dada gramática», sem se referir à questão da comunicação em si.
Num site brasileiro define-se o primeiro termo, agramatical: «infração a determinadas regras do sistema linguístico, que impede que a comunicação seja estabelecida.» Acrescenta ainda «quando isso acontece, a comunicação torna-se inviável». Apresenta em seguida o exemplo «Não hoje a criança o viu brinquedo lá».
O mesmo site define erro como «uma inadequação do uso da língua, vinculada a um padrão e à aceitabilidade social de quem fala, mas que não compromete a instauração da comunicação», ou seja, uma "inadequação", diferenciando assim os dois termos.
A minha questão surge, pois no Ciberdúvidas apresentam-se como agramaticais algumas situações que, a meu modesto ver, não me parecem ir totalmente ao encontro da definição encontrada no mencionado site (no que se refere apenas à "impossibilidade" da comunicação).
Quando leio ou ouço alguém dizer «ele está mais melhor», eu percebo que a pessoa em causa quer dizer que «ele recuperou», «está melhor»; ou quando leio «Duvido que o Brasil virá a ser um grande exportador de petróleo», eu entendo que o que se quer dizer é que alguém duvida que o Brasil venha a ser um grande exportador de petróleo.
Resposta:
A viabilização/inviabilização da comunicação (ou da regular compreensão do conteúdo informativo veiculado numa frase) não é critério para distinguir gramaticalidade de erro.
1. Gramaticalidade
O linguista tem por objectivo descrever o sistema da língua. Para tal, toma como base do seu estudo a análise de um corpus de enunciados, ou de segmentos de enunciados, efectivamente produzidos pelos falantes nativos de uma língua.
Na recolha desse corpus faz-se apelo à intuição linguística dos informantes. O falante/informante faz então um julgamento sobre se um dado enunciado pertence ou não à sua língua. Ora, um falante pode considerar um enunciado anómalo por múltiplas razões: ele pode excluir a viabilidade de um enunciado porque o considera pesado, confuso ou inestético. Porém, ao linguista interessa apenas saber se um dado enunciado é ou não possível numa língua, isto é, se (i) está em conformidade com as regras de formação do enunciado; (ii) se é passível de ser produzido com regularidade nessa língua.
Daí que a noção de gramaticalidade admita graus, ou seja, se desenrole num continuum:
— a ausência de qualquer marca assinala a plena gramaticalidade da construção;
— entre estes dois pólos, do menos gramatical para o mais gramatical, usam-se os sinais: ?*, ?? e ?.
Gramatical/agramatical são termos metalinguísticos.
2. Erro
A noção de erro impl...