A poucas semanas de completar 95 anos, Rubem Fonseca não resistiu a um enfarte no seu apartamento, no Leblon, no Rio de Janeiro.
Nascido em Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, em 11 de maio de 1925, José Rubem Fonseca mudou-se para o Rio de Janeiro aos 8 anos de idade. Formado em Direito, trabalhou como comissário de polícia no início dos anos 1950, cuja experiência marcaria a sua obra literária de mais de 30 livros publicados, especialmente no contos em que a violência e o submundo das cidades têm particular realce.
Estreou-se na literatura em 1963, com o livro de contos Os Prisioneiros, tendo cinco vezes o Prémio Jabuti na categoria de Contos e Crónicas, pelos livros Lúcia McCartney (1969), O Buraco na Parede (1995), Secreções, Excreções e Desatinos (2001), Pequenas Criaturas (2002) e Amálgama (2014).
Na categoria de Romance, venceu-o apenas uma vez, com A Grande Arte (1983).
Em 2015, quando foi distinguido com o Prémio Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras (ABL) considerou «Rubem Fonseca um dos mais importantes ficcionistas contemporâneos brasileiros», que «exerceu profunda influência na cena literária brasileira, inaugurando a tendência que Alfredo Bosi chama de 'brutalista'».
«Consagrou-se pela sua narrativa nervosa e ágil, ao mesmo tempo clássica e moderna, entre o realismo e o policial, revelando a violência urbana brasileira, sem perder o olhar sensível para a tragédia humana a ela subjacente, a solidão das grandes cidades ou para os matizes do erotismo. Seu estilo contido, irónico e cortante, ao mesmo tempo denota um leitor dos clássicos e um ouvido atento ao falar das ruas em seu tempo», descreveu-o então a ABL.
Conhecido também pela sua reclusão, e consequente recusa a dar entrevistas, Rubem Fonseca viveu a maior parte da sua vida no Rio de Janeiro, tornando-se numa das figuras da cidade.
Em 2012, quando esteve em Lisboa para receber a Medalha de Mérito Municipal, afirmou que «mais importante que esta grande honraria é o estar em Portugal», terra de todos os seus antecessores.
Num curto discurso, nos Paços do Concelho de Lisboa, o autor de O Cobrador disse que, juntamente com o irmão, foram os primeiros brasileiros de uma família portuguesa onde, em casa, o quotidiano era marcadamente português.
«Em casa falávamos português, minha mãe só cozinhava comida portuguesa e a biblioteca do meu pai era só de autores portugueses», disse na ocasião.
À Lusa, o autor de A Grande Arte declarou emocionado: «Sempre que venho aqui [a Portugal] a minha alegria é redobrada e a felicidade que sinto é muito grande».
Cf. Rubem Fonseca (1925-2020), o escritor “peripatético” que gritava vivas à língua portuguesa, Morreu Rubem Fonseca: mestre do conto, um dos maiores escritores brasileiros e prémio Camões em 2003, Rubem Fonseca escreveu primeiro livro aos 17 anos e foi um dos maiores autores brasileiros + Rubem Fonseca: o narrador como atirador
Texto da agência de noticias Lusa, com a data do dia 15 de maio de 2020