A ministra da Cultura [de Portugal], Isabel Pires de Lima, afirmou que a criação do Museu Mar da Língua Portuguesa «é uma opção política» e um «projecto prioritário» no quadro dos investimentos na área da cultura.
A governante falava durante uma conferência de imprensa de apresentação do projecto museológico pelos arquitectos e comissão científica responsável, que decorreu no Museu de Arte Popular, encerrado desde 1999. Isabel Pires de Lima foi questionada pelos jornalistas sobre o investimento neste projecto — orçado em 3,5 milhões de euros e que deverá abrir ao público em Julho de 2008 — no actual quadro de restrições orçamentais que também têm atingido os museus nacionais.
«Fazer política é fazer opções e entendemos que este projecto era prioritário», respondeu a governante, justificando que se tratou de uma «opção política» que tem como finalidade dar a conhecer a importância da língua portuguesa no mundo.
«Essa importância revela-se nos 200 milhões de falantes em quatro continentes», sustentou a ministra, destacando ainda a relevância da língua materna «como identidade e ferramenta para ler o mundo e organizar o pensamento».
Salientou ainda que este novo projecto está ligado a duas prioridades do actual Governo que são o Plano Nacional de Leitura e a requalificação e dinamização da zona de Belém, onde o novo museu ficará articulado com outros monumentos ligados aos Descobrimentos, nomeadamente a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos e o Padrão dos Descobrimentos.
Do valor global investido, 1,6 milhões de euros virão do Programa Operacional da Cultura (POC) e o restante do PIDDAC.
Sobre a polémica das críticas ao encerramento do Museu de Arte Popular, cujo espólio ainda se encontra no edifício, em Belém, Isabel Pires de Lima disse que as ouviu mas não aceitou porque o museu em causa «está morto». «A nossa intenção é criar um novo museu partindo de um edifício que será preservado nas suas linhas e cujo espólio de arte popular será colocado em novas áreas de reserva do Museu de Etnologia» indicou.
Sobre eventuais comparações com o Museu da Língua Portuguesa criado em São Paulo, Ivo Castro, um dos responsáveis da comissão científica, observou que o elemento comum é «o primado do domínio tecnológico, porque os públicos serão diferentes».
O novo museu terá dez espaços através dos quais os visitantes vão poder descobrir a história dos Descobrimentos portugueses e o universo da língua portuguesa.
Esperados 200 mil visitantes/mês
O Museu Mar da Língua Portuguesa, que espera atrair 200 mil pessoas por ano, vai simular uma viagem náutica do período quinhentista e conduzir os sentidos dos visitantes à descoberta do universo do português.
O projecto foi hoje apresentado aos jornalistas no Museu de Arte Popular, em Belém, pela equipa responsável, na presença da ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, e do director do Instituto dos Museus e da Conservação, Manuel Bairrão Oleiro.
De acordo com o arquitecto Júlio de Matos, o projecto a criar no edifício será dividido em duas partes, uma na ala sul, dedicada à História dos Descobrimentos, e a outra na ala norte, dedicada à língua portuguesa.
Concebido para receber cerca de 300 visitantes em simultâneo, o Museu Mar da Língua Portuguesa será instalado no actual Museu de Arte Popular, que entrará em obras de remodelação para abrir em Julho de 2008.
O projecto «foi desenhado para manter o respeito pelo edifício e com uma intervenção mínima para preservar, nomeadamente os frescos, tentando não entrar em despesas desnecessárias, mas introduzindo uma dimensão contemporânea», explicou o arquitecto.
Nesta primeira «visita virtual» ao futuro espaço museológico, foram dadas a conhecer as dez áreas que os visitantes poderão descobrir, nomeadamente, mapas das rotas dos Descobrimentos, as personalidades históricas mais importantes como o Infante D.Henrique, as rosas dos ventos, a cronologia das descobertas, a construção naval, como era a vida a bordo e o encontro de culturas.
Uma das principais atracções nesta ala do museu vai ser o auditório "Aventura da Navegação", onde uma biblioteca virtual, cabinas interactivas para ouvir poesia e prosa, um espaço informativo para aprofundar conhecimentos e um auditório para um espectáculo audiovisual a três dimensões sobre história da língua portuguesa.
Ao lado, no "Laboratório dos Sentidos", será possível perceber de que forma os Descobrimentos trouxeram aos europeus novos sabores, visões do mundo, sons, sensações e cheiros, provenientes de outros lugares e outras culturas.
«A ideia de base nesta área é mostrar o movimento da língua portuguesa para fora da Europa, nos séculos XV e XVI, o contacto com outras culturas e o enriquecimento mútuo que daí resultou», referiu Ivo Castro, recordando que o português também incorporou elementos de outras línguas.
Num último espaço desta ala, logo a seguir ao auditório, será criado um "Labirinto das Palavras" para apreciar um espectáculo acústico multicanal com recriação de ambientes da época, no qual o visitante ouve sons vindos de várias direcções.
O percurso do projecto — cujo concurso de execução deverá abrir dentro de um mês — será concebido para ter textos em inglês, e possivelmente outras línguas, de forma a poder ser entendido pelos visitantes estrangeiros.
Além do arquitecto Júlio de Matos e do professor Ivo Castro, a equipa responsável pela concepção do museu é ainda composta por Fátima Morna, Francisco Domingues, Maria Rita Marquilhas e o engenheiro Manuel Sousa.
"Lusa"
noticia da agência Lusa, de 2 de Maio de 2007