Em entrevista ao Diário de Notícias de 20 de Novembro de 2005, Francisco Alves da Costa explicou como começou e como continuou, até hoje, a caçar erros das televisões e das rádios portuguesas.
«Pai, há tantas asneiras na televisão. Porque é que não escreve para lá a corrigir?» Esta pergunta, com mais de 25 anos, impulsionou Francisco Alves da Costa a abraçar a missão da sua vida: “caçar” erros da televisão e da rádio.
Hoje, com 84 anos e reformado da função pública, este linguista autodidacta licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas passa horas em frente da televisão. E contou ao Diário de Notícias: «Tenho sempre comigo um caderninho, onde aponto os erros que vou ouvindo dos jornalistas e apresentadores.» E acrescentou: «Tenho mais de 50 dicionários em casa, de várias línguas e todos de bons autores. Até de grego, chinês e japonês.» Francisco Alves da Costa é metódico na sua busca: «Procura o étimo, decompõe a palavra, ensaia a pronúncia, certifica-se da grafia.» Como ele próprio conta: «Não afirmo nada que não tenha estudado.» Depois, explicou a parte da correcção: «Sento-me ao computador e escrevo. Envio cerca de 500 cartas por ano. Tudo sozinho. Não tenho secretária para me ajudar.» E continuou: «Quando detecto os erros, aponto-os nos meus documentos. Tenho uma ficha relativa a cada pessoa e vou anotando os erros e as datas em que lhe escrevo».
Segundo Alves da Costa, «na maior parte dos casos» os profissionais da rádio e da TV portuguesas «recebem bem» as suas correcções: Até «há uns, simpáticos, que me escrevem a agradecer e até corrigem a forma de dizer as coisas»; [mas também há os que] «não corrigem e continuam a persistir no erro».
O estudo da língua e a experiência adquirida com este trabalho já deram origem à publicação de um dicionário de estrangeirismos pela Editorial Notícias. Além disso, tem «um dicionário organizado com problemas e erros de linguagem» que não sabe «se será publicado, porque no mundo editorial não há um grande interesse por estes assuntos».
As muitas horas que passa a ver televisão e a ouvir rádio dão-lhe, confessa, «muito prazer»: «Porque sinto que estou a prestar um serviço válido [pois] a qualidade do português falado e escrito na televisão é cada vez menor.» Francisco Alves da Costa não faz distinções entre a RTP e as estações privadas portuguesas, e desabafa: «Fala-se mal em todas, é uma tristeza. E isso é muito mau, porque a televisão tem uma influência muito grande. Se as pessoas ouvem um erro e não sabem, podem achar que aquela é a forma correcta.»
A concluir, disse que o problema reside na falta de cultura dos profissionais, bem como no pouco rigor dos testes de admissão na televisão. E remata: «Para entrar neste mundo é preciso saber português. E para dominar a língua é preciso ler, ler muito.»