Na discussão do combate à pobreza é inevitável abordar a educação e os seus contributos para uma melhor qualidade do capital humano (i. e. conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que favorecem a realização do trabalho de forma a produzir valor económico). A melhoria deste tipo de capital é, grosso modo, um esforço baseado na língua. Neste sentido, o Banco Mundial lançou, em 2021, o documento Em Alto e Bom Som: Políticas de Língua de Instrução Eficazes Para a Aprendizagem, traduzido para o português por Sónia Pinho.
Tendo por base a premissa de que políticas adequadas em matéria de língua e instrução facilitam a aprendizagem e outros aspetos e o facto de as boas políticas relativas à língua de instrução continuarem a ser uma exceção e não a regra, esta publicação tem como objetivo primordial propor novas abordagens em matéria de políticas sobre a alfabetização e ensino de línguas. Infelizmente, os dados das análises realizadas neste documento demonstram que 37% dos estudantes em países de rendimento médio e baixo não estão a ser ensinados na língua que falam e compreendem melhor, o que compromete os seus bons rendimentos académicos e permanência na escola. Tal como se assinala neste documento, «um volume substancial e crescente de estudos revela que as crianças aprendem melhor na sua primeira língua (L1) do que numa segunda língua (L2)» (pág. 9). Por conseguinte, sem tentar ser um artigo académico exaustivo, este documento explica, de modo sucinto, a importância de se apostar num ensino adequado de línguas, tendo em conta os perfis linguísticos dos alunos e os desafios económicos dos diferentes países.
Esta publicação está organizada em duas partes. Na primeira parte são discutidas as razões pelas quais deve existir uma preocupação com as questões relativas ao ensino e aprendizagem de línguas e os principais desafios envolvidos na sua prática. Já na segunda parte apresenta-se uma proposta de um conjunto de soluções de alguns dos problemas que envolvem a aprendizagem de línguas com base na Prática Global de Educação do Banco Mundial. No entanto, o próprio documento avisa que, nesta publicação, «não [se] afirma possuir nem propor um conjunto completo de soluções técnicas para a miríade de complexas questões políticas envolvidas» (pág. 12).
Portanto, visto que o português é uma das línguas que a nível global serve como via de instrução de muitos falantes que não o têm como L1, sendo que isto se verifica nomeadamente no contexto dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), a discussão desenvolvida neste documento pode ser um mote interessante para uma reflexão mais alargada sobre o papel da língua portuguesa no sistema educacional de certos países, sobretudo, os PALOP. Importa, contudo, assinalar que algumas opções de tradução para português são discutíveis e, por outro lado, os anexos deste documento encontram-se apenas em língua inglesa.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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