Publicada em 2014 e com organização de Lívio Sansone e Cláudio Alves Furtado (Universidade Federal da Bahia), esta é uma obra que continua atual como proposta de discussão e conceptualização de temas das ciências sociais em língua portuguesa. Embora não se trate de uma reflexão estritamente metalinguística, que configure um glossário, tem, no entanto, a enorme vantagem de encontrar formulações em português para a construção de terminologias nesta área de investigação, tantas vezes sujeita ao jargão científico anglo-saxónico.
O prefácio (pp. 7-23) enquadra e justifica o projeto gerador deste dicionário, «[que] nasceu a partir de uma perspectiva e de um projeto com alcances mais amplos, e que objetiva a criação de uma rede multidisciplinar de pesquisadores brasileiros e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), centrada na reflexão não essencial, mas crítica, da noção de “espaço lusófono”» (p. 7). Na apresentação recorda-se que a versão final do referido projeto «foi lançada no quadro do programa do XI Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, que se realizou em Salvador da Baía de 7 a 10 de agosto de 2011»; fica igualmente clara a perspetiva crítica transversal adotada, que se repercute nas considerações dedicadas à língua portuguesa e à lusofonia. Disto é exemplo a seguinte passagem (p. 26):
«O presente Dicionário [...] parte da ideia de que a criação e atualização de um dicionário moderno sobre estes temas [das ciências sociais] precisam estar centradas em um projeto colaborativo baseado em uma rede interdisciplinar e ampla em diversos países, e que, longe de qualquer culto à “lusofonia” (que acaba sendo uma lusofilia), entenda a língua como um útil meio, mas não um fim em si.»
Seguem-se 28 entradas, que são na verdade ensaios correspondentes a termos que foram selecionados por serem recorrentes nas ciências sociais ou por identificarem debates importantes (p. 28). Interesse direto para a discussão dos aspetos históricos, sociopolíticos e estéticos do português e até das línguas com que este entrou em contacto têm, sem dúvida, os capítulos intitulados "Crioulo e crioulização" (de Wilson Trajano Filho, pp. 71-90), "Escritores e os projetos de emancipação" (de Rita Chaves, pp. 187-198), "Língua" (de Omar Ribeiro Thomaz e Sebastião Nascimento, pp. 271-290) e "Literatura" (de Inocência Mata, pp. 291-304).
Escrito numa linguagem que os organizadores consideram acessível – ainda que a complexidade das várias discussões imponha aqui e ali importante grau de especialização –, este é um livro em que também se explora, afinal, a capacidade de o português sondar a sua própria inscrição social e política.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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