Um dia destes chegou-me às mãos uma correspondência do Tribunal Central Administrativo do Sul (TCAS). O TCAS fica situado na Rua da Beneficência, em Lisboa, porém, o sobrescrito a que tive acesso refere Rua da Beneficiência.
De acordo com a informação disponível no sítio do TCAS, o mesmo tem mais de três dezenas de magistrados. Já nem falo sequer dos restantes trabalhadores. Há, pois, algumas dezenas de pessoas com funções de especial responsabilidade a lidar com aqueles envelopes e que seguramente sabem escrever corretamente o nome da rua onde trabalham. Mas ninguém parece ter reparado no erro.
Trata-se, infelizmente, de um erro frequente, um erro de simpatia, admito que com benefício, já que beneficência é o «ato de fazer benefícios; prática da caridade; filantropia». O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa apresenta mesmo como sinónimo de benefício a expressão «espectáculo de beneficência». Apesar disto, bastaria um breve segundo de reflexão etimológica para se perceber da impossibilidade daquela palavra que provém do latim beneficentĭa.
Estranho que em todo o processo de produção destes envelopes ninguém tenha dado conta, nem no tribunal, nem na empresa gráfica que os imprimiu. E que já depois de impressos eles circulem impunemente, sem que aparentemente ninguém tenha notado ou providenciado a resolução do erro, por exemplo, traçando um risco sobre o i supérfluo ou apondo um autocolante com o nome da rua corretamente escrito.