«O almoço é uma refeição calorosa que pode incluir tortilha, sopas (feijão preto, abóbora, frango), arroz e carne. O jantar é normalmente uma versão mais ligeira do almoço.»
«Esqueça tacos e burritos», Metro, 9 de junho de 2014, p. 12
Às vezes tropeçamos na semântica. Foi o que me aconteceu ao ler a primeira das frases supra num texto de cariz informativo e descritivo sobre gastronomia mexicana. O escolho ali foi o "calorosa" que significa «afetuosa, muito cordial», e se aplica geralmente a pessoas, para caracterizar sentimentos ou estados de espírito (ex.: «cumprimentou-o de forma calorosa»). Podem – claro está – existir «refeições calorosas» mas para nos referirmos aos convivas e não aos alimentos. Lendo e relendo, acho que o que se queria dizer ali era capaz de ser calórico, ou seja, «com uma abundante dose de calorias», e não caloroso. Também poderia, no limite, significar simplesmente «quente» – pois é bem certo que alguns dicionários também dão o «calorosa» como sinónimo de quente, ainda que o uso da palavra se tenha afastado desse sentido mais físico – mas nem sequer isso me parece, porque o pequeno-almoço até tem café forte e feijões reaquecidos, e o jantar, como se diz, é uma «versão mais ligeira do almoço», pelo que a dicotomia quente/frio não me parece fazer ali grande sentido. O que ali temos é – parece-me – uma má, ou pelo menos infeliz, escolha vocabular.