O provedor do leitor do jornal Público volta ao tema dos erros no diário português que se reclama de referência — alguns verdadeiros "tratos de polé dados à língua portuguesa". Artigo inserto na edição de 19 de Outubro de 2008, sob o título original "Minudências maiores".
E depois há ainda os tratos de polé dados à língua portuguesa, talvez o que mais ofende os leitores. Vários deles reclamaram com veemência junto do provedor ao lerem em destaque, na pág. 54 da Pública de 5 de Outubro, a frase: "Se pudessem casar com pessoas do mesmo sexo, Paulo Côrte-Real e Elisabete Pereira fariam-no." "Desta vez, parece-me um pouco excessivo", comenta Pedro Guedes de Oliveira. "Não lêem ou não sabem?" Um anónimo afirma: "Temos de concordar com a dimensão distinta desta bacorada, pela simplicidade que exibe." E a professora Isabel Semedo ironiza: "Suponho que a responsabilidade (ou mesmo a culpa!) não seja da própria autora do texto, nem do editor, nem do revisor, muito menos do director... Deve ser mesmo dos professores!"
Vejamos outro caso, na pág. 16 da edição de 27 de Setembro, também alvo da reclamação de vários leitores, como Lídia Martins: "Temos esta jóia como título: 'Caso Esmeralda – Pai processa Estado, se não reaver filha'. Como conjugam alguns jornalistas o verbo haver? E como não conseguem raciocinar e concluir que reaver é um composto de haver?" Poderá não soar tão bem a quem escreveu, mas a formulação correcta é, de facto, "reouver". "Dispenso-me de comentários, mas como quem está em idade de aprender parece-me que já não lê jornais...!", suspira Abílio Nunes.
Merece também menção o "camião com muito mau feitio", segundo Jorge Cardoso, ao ler na pág. 14 do "Público" de 23 de Setembro a notícia "Dirigentes paquistaneses escaparam a atentado": "Pouco antes de um camião com uma bomba de 600 kg se fazer explodir à entrada do estacionamento do hotel..."
Por seu turno, Carlos Cardoso chama a atenção: "Na pág. 12 do suplemento 'Economia' de 19 de Setembro, (...) a autora do artigo escreve com grande fluência e em estilo agradável, mostrando óptimo domínio da língua portuguesa, e nada deixaria antever o uso de uma palavra totalmente disparatada: 'torrefador'! Se a autora quer significar a entidade que torrou o café (empresa, fábrica), terá de usar a palavra 'torrefactor'. Se quer significar a máquina onde o café é torrado, o termo é 'torrador', também utilizado para designar o operário encarregado da torrefacção."
E que dizer do título "Os furacões mais intensos estão a tornar-se cada vez mais fortes", no "Público" de 4 de Setembro? Trata-se do "uso discutível de palavras com 'intensidades' semelhantes", sublinha Sílvia Alves, que preconiza outras hipóteses: "Os furacões mais fortes estão a ganhar mais força', e por aí adiante. O desenvolvimento da notícia também não melhora."
Por fim, uma sugestão apresentada por Augusto Küttner de Magalhães acerca do título "Investigadores descobrem mecanismo que promove leucemias infantis", na pág. 13 da edição de 2 de Outubro. É certo que, em linguagem científica, o verbo estará correcto. Mas, a bem do esclarecimento do público, o leitor apresenta alternativas: "Investigadores descobrem mecanismo que desenvolve leucemias infantis"; "... que acciona leucemias infantis"; "... que adianta leucemias infantis". Talvez. O certo é que o esclarecimento do público, sem haver lugar a ambiguidades, deve ser uma preocupação constante do bom jornalismo.